terça-feira, 2 de julho de 2013

Sinais - raízes de um paradigma indiciário: apontamentos de leitura



Por Ernaldina Sousa Silva Rodrigues

O texto, Sinais – raízes de um paradigma indiciário, faz parte do livro Mitos, emblemas, sinais – morfologia e história, escrito por Carlo Ginzburg, historiador italiano.

O autor tenta mostrar o surgimento de um modelo epistemológico que surgiu no século XIX e explicita que a análise desse paradigma, amplamente operante de fato, ainda que não teorizado explicitamente, talvez possa ajudar a sair dos incômodos da contraposição entre “racionalismo” e “irracionalismo”. (GINZBURG, 1989, p.143).

No primeiro momento, o autor faz uma analogia entre os métodos de Morelli, Holmes e Freud e descreve as pistas que permitem captar a realidade de outra forma. Atribui pistas nos casos de Freud, indícios no caso de Sherlock Holmes e signos no caso de Morelli. A proposta nesses casos é de outra forma de interpretar a realidade. O método está centrado em detalhes pouco explorados. A relação posta entre os diversos saberes indiciários e a semiótica médica.

Ginzburg relata que Aprendeu a farejar, registrar, interpretar e classificar pistas infinitesimais como fios de barba. Aprendeu a fazer operações mentais complexas com rapidez fulminante, no interior de um denso bosque ou numa clareira cheia de ciladas (p.151). O autor faz um passeio pela história para nos falar que as origens desse paradigma remonta a história e que o homem se utiliza desse saber indiciário com uma sabedoria invejável.

Em outro momento, Ginzburg faz analogias entre o paradigma venatório e o paradigma implícito nos textos divinatórios mesopotâmicos. Os dois casos pressupõem a captação da realidade por meio de detalhes ínfimos.

O autor descreve e analisa os diversos paradigmas indiciários e seus sinônimos: venatório, divinatório, semiótico e vai tecendo cada um conforme os contextos, de modo a formar um tapete. Inclui-se nesse contexto o aparecimento das diversas disciplinas no modelo epistemológico. 

O autor questiona: Mas, pode um paradigma indiciário ser rigoroso?(p.178) .Pondera, porém, que as regras usadas nesse tipo de saber não se prestam a ser formalizadas nem ditas. Trata-se de formas de saber tendencialmente mudas (p.179). Nesse tipo de saber, explica o autor, entram em jogo elementos imponderáveis: faro, golpe de vista, intuição. Então, no saber indiciário, o rigor é flexível e intuitivo.
O saber indiciário pode ser usado, nesse sentido, para pesquisas levando-se em contas as “pegadas”, os “sinais” para tentar decifrar a realidade. Conforme o autor se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas – sinais, indícios – que permitem decifrá-la. 

Aos olhos da academia, com seu rigor inflexível, metódico e científico, o paradigma indiciário é inatingível  e indesejável. Não é racional; é irracional.

O texto de Carlo Ginzburg nos ensina a olhar e a investigar de outra forma, muito interessante. Siga as pegadas, sinta, perceba...é a intuição. O texto realmente nos faz mergulhar, ver o foco e tentar enxergar os sinais. Qual é realmente o seu foco? Veja os sinais. Poderíamos definir o saber indiciário como um pressentimento? Podemos realmente usar esse modelo epistemológico em nossas pesquisas? Pensar que tudo começou com uma série de artigos sobre a pintura italiana...(p.143). São as raízes de um paradigma indiciário. 

Referência:

GINZBURG, C. Sinais – raízes de um paradigma indiciário. In: Ginzburg, C. Mitos, emblemas, sinais. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 143-179, 260-275.

Um comentário: