terça-feira, 5 de novembro de 2013

Curso de Filosofia Positiva: apontamentos de leitura


Por Ernaldina Sousa Silva Rodrigues

Antes do advento da máquina a vapor, o homem usava a energia natural. Com o surgimento da máquina a vapor, a humanidade sofreu alterações cruciais como as que ocorreram com a Revolução Industrial no Século XVIII. Nessa época, fervilhavam as ideias em torno do cientificismo, tendo a ciência como a única fonte de conhecimento possível e o método das ciências da natureza o único válido. Nesse contexto, Auguste Comte (1798-1857), francês, desenvolveu o seu pensamento positivista. Os positivistas reduzem o trabalho da filosofia à mera síntese dos resultados das diversas ciências particulares. O aparecimento dos positivistas deveu-se a crítica feita por Immanuel Kant, filósofo alemão, à metafísica na Crítica da razão pura juntamente com os idealistas. Comte é considerado o fundador da sociologia como ciência.

O Curso de Filosofia Positiva, de autoria de Comte, divide-se em duas lições. Cada lição conta com um sumário que favorece uma visão panorâmica sobre os temas tratados.

A primeira trata da finalidade do curso.  O autor explica a evolução histórica do espírito humano, da humanidade da filosofia com a teoria dos três estados sucessivos: o estado teológico ou fictício, ligado aos mitos, às crenças, aos deuses e à religião. O estado ou sistema metafísico, destinado a servir de transição, de explicar o modo de geração dos fenômenos,  onde o espírito humano é movido por força abstratas, personificadas, verdadeiras entidades inerentes aos diversos seres do mundo. O estado positivo, o espírito humano é fixo e definitivo, preocupa-se em descobrir suas leis efetivas e a saber suas relações invariáveis de sucessão e de similitude.

Exalta o estado positivo como fundamental na idade viril ou madura do espírito humano, desprezando o teológico e o metafísico. A filosofia positiva é o verdadeiro estado definitivo da inteligência humana, porque possibilita a observação e a formação de teorias reais. Todos os fenômenos são tomados como sujeito a leis naturais invariáveis. Nesse estado, a filosofia positiva apenas descreve os fenômenos, sem explicá-los. Se tais explicações ocorressem, cairia na visão teológica e metafísica.

Comte ressalta a divisão do trabalho intelectual como sendo um dos atributos da filosofia positiva por ser a base da organização do mundo do trabalho dos cientistas e a sistematização das ciências. Para o aperfeiçoamento dessa divisão, forma-se uma seção sobre o estudo das generalidades científicas controlada por uma classe distinta de novos cientistas.

O estudo da filosofia positiva tem a vantagem, segundo Comte, de tornar-se racional as leis lógicas do espírito humano. Recusa a introspecção e critica o método subjetivo empregado na psicologia como ilusório, permeado pela abstração das causas e dos efeitos, sem tese lógica, baseado em sonhos e impossibilitado de promover a observação dos fenômenos intelectuais.

O método positivo consiste na observação e na produção de um conhecimento nítido e profundo das investigações, manifestado pela experiência das leis.

Na visão do autor, a reforma geral do sistema de educação consiste em substituir a educação europeia, impregnada pela teologia, metafísica e a literatura, pela educação positiva. A essa reorganização educacional e racional, seria acrescentado o estudo das generalidades científicas, sucedendo à educação geral.

Extremamente pretensioso no pensar, Comte considera a filosofia positiva como a única base sólida capaz da reorganização social frente à desordem causada pelas filosofias teológicas e metafísica.

Com o termo “ Nada mais resta”, Comte reduz a filosofia a um único corpo de doutrina homogênea, à síntese de resultados das ciências específicas, ao fato positivo. A filosofia positiva seria a redentora da sociedade frente à crise revolucionária. Sendo assim, a filosofia de Comte restabeleceria a ordem na sociedade.

Na Segunda Lição do Curso, o autor expõe o plano, a classificação racional das ciências positivas. A classificação das ciências propostas até aquele momento tinham fracassado pela incompetência dos filósofos e pelo caráter prematuro de suas tentativas. Diante disso, as circunstâncias seriam favoráveis ao positivismo, tendo os filósofos da área de botânica e zoologia dado o suporte ao modelo das classificações provindas do próprio estudo dos objetos a serem classificados. O princípio é classificar os objetos, após a observação, eliminando as considerações a priori. Distingue os conhecimentos teóricos e práticos. A filosofia deve considerar os conhecimentos das teorias científicas, da pesquisa teórica e desconsiderar a prática ou as ciências particulares. Sendo qualquer classificação das ciências necessariamente artificial, a obrigação do filósofo seria combinar a exposição histórica com a exposição dogmática. O importante seria o conhecimento da história das ciências.

Comte divide as ciências naturais em Física inorgânica ou corpos brutos e física orgânica ou  corpos organizados. Em seguida, o autor faz um resumo da classificação das ciências, sendo a matemática, a astronomia, a física, a química, a filosofia e a física social. Explica as propriedades dessa classificação, especificando os aspectos históricos das ciências.

O Curso Filosofia Positiva é uma obra clássica e Comte postula o fundamento de uma doutrina positivista. Formulou a lei dos três estados, promoveu a classificação das Ciências e fundou a sociologia. O positivismo despreza a sensibilidade, o sentimento, a introspecção. Ressalta e prima pelo que é observável, que pode ser medido, que produza resultados palpáveis. Na realidade, Comte faz uma apologia à filosofia positiva, tida como a verdadeira e salvadora da humanidade. Tudo está reduzido ao conhecimento científico.

Nossa realidade tem ranços da filosofia positiva.

COMTE, Auguste. Curso de Filosofia Positiva. In: Os Pensadores. São Paulo: Ed. Abril, 1978, p. 1-39.

Um comentário:

  1. Muito bom, gostei muito! Um resumo completo da primeira lição de Comte. Excelente!

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