sexta-feira, 22 de março de 2013

Sobre os Clássicos: apontamentos de leitura




Por Ernaldina Sousa Silva Rodrigues


Todos os clássicos, com certeza, inovaram a forma de pensar a política e a relação entre os homens. Todos eles, ao seu modo, contestaram e interpretaram as contradições e a realidade da época em que viveram, principalmente pelas questões econômicas de poderio, vantagens, monopólio e favores. O poder era, e ainda o é, econômico, e era manipulado pela igreja, pelo absolutismo real e pela burguesia. Parafraseando Cazuza: "a burguesia fede, a burguesia quer ficar rica, enquanto houver burguesia não vai haver poesia". A burguesia está em todas as épocas, muda somente de nome. Qual é a diferença hoje se a política está literalmente ligada ao poder e permeia relações? Que contradições estamos vivendo nesta nossa época que nos impelem a fazer o que estamos fazendo ou a viver em prol de quê? De uma vida melhor? Pelo bem da coletividade?

De alguma forma somos individualistas e partimos da concepção individualista, conforme os clássicos Rousseau, Locke e Hobbes . Rousseau questionou e eu reelaboro seu questionamento: quando é que deixamos de ser voluntários para nos tornarmos servos da escravidão em qualquer sentido da palavra? La Boétie se pergunta pela razão que levaria o homem à obediência, à servidão voluntária. Se a democracia se dá nas relações, conforme Demerval Saviane, o que leva alguns governos a praticarem a Egocracia e o que leva o povo a não exercitar os seus direitos enquanto cidadãos? O que é ser cidadão? Será consentimento ou receio de se expor? Ou o quê? Interessante é que os clássicos confrontaram as ideias e o fazer da época em que viveram por meio da publicação escrita de suas ideias. De certa forma, essas ideias contribuíram para entender a realidade que vivemos hoje. Marx foi mais além ao interpretar e contestar teoricamente e a participar ativamente da transformação da realidade naquela época: “Operários, uni-vos!”.

Uma resposta encontrada na leitura das Obras Clássicas de Rousseau, Locke e Hobbes (Discurso sobre as desigualdades, Segundo Tratado sobre o Governo e alguns trechos de O Leviatã): o que distingue o homem do animal? Rousseau parcialmente responde que seriam diferentes pela faculdade de aperfeiçoarem-se com o auxílio das circunstâncias. Marx foi mais além: o homem se distingue do animal como ser capaz de aperfeiçoar permanentemente os instrumentos de sua sobrevivência. Esse é o grande diferencial do ser humano. É aí que está a contradição. Segundo Marx, se não for esse o ponto, estaremos nos alienando. A vida não existe sem contradição. Então pergunto: que contradições existem em nossas vidas que nos fazem agir e pensar?

Discorrendo sobre o pensamento dos três clássicos (Rousseau, Locke e Hobbes), penso que o que há de comum entre os filósofos contratualistas é que eles partem da análise do homem em estado de natureza. O homem tem direito de natureza, é jus naturale. Todos têm uma visão individualista do homem, ou seja, o indivíduo preexiste ao Estado. Todos eles visam justificar o poder do Estado sem recorrer à intervenção divina. O pacto visa garantir os interesses dos indivíduos, sua conservação e sua propriedade. Se no estado de natureza o indivíduo é livre com o pacto, com o Estado de soberania a liberdade dos súditos está naquelas coisas que o soberano permite. Sendo assim, o Estado se reduz à garantia do conjunto dos interesses particulares.
 
Segundo o professor C. B. Macpherson, em seu livro A teoria política do individualismo possessivo, o contrato surge como decorrência da atribuição de uma qualidade possessiva ao homem que, por natureza, tem medo da morte, anseia pelo viver confortável e pela segurança e é movido pelo instinto de posse e de desejo de acumulação.

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