terça-feira, 1 de outubro de 2013

Cartografias do Trabalho Docente: apontamentos para uma epistemologia da prática pedagógica


Por Ernaldina Sousa Silva Rodrigues
 
Corinta Maria Grisolia Geraldi, Maria da Glória Martins Messias e Miriam Darlete Seade Guerra produziram o artigo intitulado Refletindo com Zeichner: um encontro orientado por preocupações políticas, teóricas e epistemológicas, que compõe o livro Cartografias do Trabalho Docente.

As autoras são integrantes do GEPEC, Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação Continuada. Escreveram o artigo para apresentar as proposições de Kenneth M. Zeichner a respeito da formação docente como profissionais reflexivos. Em notas de rodapé, as autoras contam a trajetória para conseguir a entrevista pessoal com Zeichner, a sua participação na 20ª Reunião Anual da ANPED em setembro de 97 e o encontro do professor com um grupo de professoras-pesquisadoras de uma escola pública de Passo Fundo/RS.

Apresentam as ideias de Zeichner cuja obra trata da valorização, autonomia profissional e acadêmica do trabalho docente inserido no contexto social, político e cultural. Explicitam as proposições do pensador a respeito da formação dos professores como profissionais reflexivos e o que ele considera  usos e abusos da reflexão, à luz da literatura de recentes reformas educacionais. Explicitam também o caráter da produção do docente enquanto pesquisador, por meio da pesquisa-ação.

O artigo que pretende inserir as ideias de Zeichner na rede de pesquisadores que acreditam na relevância e especificidade do trabalho docente, trata da busca de referências das autoras para  descobertas do e no trabalho docente, da trajetória de Zeichner e suas condições de produção, da reflexão e  prática reflexiva, dos usos e abusos da reflexão, da pesquisa-ação e sua legitimidade epistemológica e dos aspectos contextuais na formação profissional de professores.

Nesse sentido, mostram a teoria pedagógica do pensamento de Zeichner centrado na “necessidade de uma inserção explícita num projeto histórico”, esclarecendo “os aspectos conceituais de sua hipótese de trabalho, sua prática de formação e as análises que apresenta sobre currículo, trabalho docente e produção de conhecimento.”  (p. 268)

As autoras apresentam as críticas de Zeichner e Liston aos trabalhos de Donald Schön que trata a reflexão como um ato individual e como um ponto de vista interno, implícito. Os autores vêm a reflexão como um ato dialógico inserida na dimensão do trabalho pedagógico, considerando as condições de produção desse trabalho e refletindo sobre as principais tradições da prática de formação de professores: tradição acadêmica, de eficiência social, desenvolvimentista e reconstrucionista social.

Retomam o conceito de reflexão e da prática de Zeichner, explanando a origem do termo prática reflexiva em John Dewey que distingue o ato humano que é reflexivo daquele que é rotina,  explicitando os pressupostos e implicações que derivam de uma proposta de formação de professores tendo como eixo a reflexão sobre a prática.

Nos “usos e abusos da reflexão”, as autoras apresentam análise crítica do pensador americano sobre as tendências que utilizam os slogans professor reflexivo e prática reflexiva, baseadas na racionalidade técnica. Também apresentam as características-chaves que compõem um professor reflexivo.

A pesquisa-ação, defendida por Zeichner, é apresentada como um instrumento de desenvolvimento profissional para o professorado, um instrumento para a implantação de reformas educacionais ou de transformação da escola e como forma de promover o conhecimento dos problemas de ensino e educação de um país. As autoras sintetizam a pesquisa-ação defendida em três dimensões: “desenvolvimento profissional”, “prática social e social” e “a luta para tornar visível o conhecimento produzido pelos professores (p.255). Assim, apresentam as concepções do autor sobre “as teorias práticas do professor” e as fases do desenvolvimento da pesquisa-ação expondo exemplos de sua utilização nas diversas fases.

Finalmente, abordam os aspectos contextuais na formação profissional de professores focando o movimento da prática reflexiva como uma “reação às intenções” de práticas centralizadoras de governos que controlam as escolas e as agências de formação. Destacam o movimento da prática como parte de uma reação ao tecnicismo e de rompimento com a “tradição de que o conhecimento só é produzido na academia”. Chamam a atenção  para as ideias de uma formação ligada a uma postura crítica do professor, visando a reconstrução social.

Nas conclusões, as autoras ressaltam a importância das ideias de Zeichner na formação e apontam como limite a falta de um tratamento claro do autor sobre “a função social da escola numa sociedade capitalista”.

O artigo, sem dúvida, apresenta o pensamento de Zeichner e reflete a formação do professor prático reflexivo. Ajuda-nos a pensar os limites e possibilidades da prática docente e aponta-nos alguns caminhos para sua efetivação. Um dos caminhos é começar a pensar a nossa própria prática, experiência de trabalho, dialogando reflexivamente, considerando sempre os aspectos sociais, políticos e culturais que nos cercam, com um olhar a mais sobre a função social da escola.

A leitura do texto pode ser útil para aqueles que queiram conhecer o pensamento de Zeichner e se propõem a refletir sobre sua prática.

Referência: 

GERALDI, C; FIORENTINI, D; PEREIRA, E. Cartografias do Trabalho Docente: apontamentos para uma epistemologia da prática pedagógica. Campinas, Mercado de Letras. 1998, p.237-274.



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