terça-feira, 15 de outubro de 2013

Investigação na ação: O que é? Como se faz? _ Apontamentos de leitura

Por Ernaldina Sousa Silva Rodrigues

O artigo de José Domingos Contreras, integrante do Departamento de Didática e Organização Escolar da Universidade de Barcelona,  sugere tornar clara as bases teóricas que sustentam a Investigação na Ação ou I-A. 

O autor parte de uma análise histórica das três concepções de Investigação na Ação, destacando os trabalhos de Kurt-Lewin, Stenhouse e John Elliot,  Stephen Kemmis e Wilfred Carr.

Apresenta e discorre sobre os diferentes enfoques da I-A: a I-A integra o conhecimento e a ação; a I-A questiona a visão instrumental da prática; a I-A é realizada pelos implicados na prática que se investiga; a I-A tem por objetivo melhorar a prática; e a I-A supõe uma visão sobre o campo social.

Aponta algumas diferenças entre os três modelos básicos de I-A na concepção de Grundy (1982-1991): o modelo técnico cujo processo é guiado por experimentos e visa a obtenção de resultados; o modelo prático dirigido para a realização dos valores intrínsecos da prática educativa, por um processo de indagação e reflexão da prática à luz de seus fins e vice-versa; e o modelo crítico que parte da possibilidade de realização do que supõe o modelo prático, devido às restrições institucionais e ideológicas. O autor tece alguns comentários sobre os  modelos classificados por Grundy e questiona sobre as posições ideológicas,  as estratégias  e as características embutidas nos enfoques prático e crítico.

No enfoque prático, chama a atenção para os aspectos morais da prática educativa e  a reflexão dos professores sobre suas ideias implícitas, tentando melhorar suas práticas,  a complexidade da realidade e a reflexão sobre suas concepções educativas frente as restrições institucionais.  No enfoque crítico, acentua os aspectos sociais da prática educativa, a reflexão sistemática sobre a ação, a auto-transformação crítica da práticas dos professores e a ação coletiva de comunidades críticas de pessoas, levando em conta o processo social e cultural.

Finaliza ponderando que a escolha de um ou outro modelo depende da identificação ideológica, das situações concretas e das possíveis estratégias de desenvolvimento. Reforça que a I-A entende o ensino como um processo de investigação, de busca contínua, porque entende que a interação humana e a interação são processos permanentes de construção coletiva, e não mecânico.

No segundo artigo, Como se faz?, o autor propõe, descreve e analisa quatro fases para o processo de investigação na ação: definição de um problema prático, coleta de dados, análise e reflexão e proposta de ação. Na fase de análise e reflexão, pondera sobre a discrepância entre pretensão e prática; nesta perspectiva, aborda as diferenças básicas entre contradições,  dilemas e  dificuldades.

Portanto, adverte que a  I-A não é uma metodologia. Um método ajuda a comunicar as ideias essenciais do processo de investigação. As técnicas e os recursos para a obtenção de dados devem estar à serviço da filosofia que inspira a I-A. Nesse sentido, a I-A é uma forma de entender a prática docente. Para isso, há necessidade de melhorá-la sistematicamente, buscando entender quais os contextos e condicionantes dessa prática. A I-A se constitui numa  ajuda para resolver os problemas da prática, um processo de problematizar a prática, descobrir a natureza problemática do ensino e reorientar o sentido da mesma.

Afirma que investigar é um processo público, porque não podemos falar realmente de um processo de I-A. Ressalta a importância da função do grupo, a elaboração de informes para difusão da investigação. Enfatiza a escrita como processo ativo de aprendizagem e não somente como transcrição ao papel de ideias previamente difundidas. Assim, a escrita  denota um processo de exploração e de clarificação de ideias e interpretações, conferindo sentido à experiência (p.19). Finaliza, apresentando alguns princípios éticos que podem ser de interesse do investigador.

O texto de Contreras tem importância fundamental para se entender a investigação na ação enquanto um meio de trabalho coletivo fundamentado na epistemologia da prática. Possibilita articulação entre teoria e prática e promove o envolvimento e desenvolvimento dos participantes da investigação por meio de um processo comunicativo e coletivo. Vejo como um processo dialógico de construção do saber docente. Na prática, os sujeitos envolvidos se comunicam, definem um problema de natureza prática, realizam a coleta de dados, analisam, refletem e propõem ações para melhoria de suas práticas, sempre levando em conta os condicionantes sociais. Além disso, podem produzir uma teoria sobre a complexidade da prática em que estão envolvidos.

Estes artigos podem servir para aqueles e aquelas que desejam melhorar  o seu desenvolvimento profissional docente, visando uma intervenção na prática. 

Referência:

CONTRERAS, J.  La investigacion en la acción. Cuadernos de Pedagogia 224, abril, 2004, p. 7-19.




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