sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Busca constante

Caçador de mim
14 Bis



Por tanto amor
por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu, caçador de mim...
Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim...
Nada a temer
Senão o correr da luta
Nada a fazer
Senão esquecer o medo...
Abrir o peito
À força numa procura
Fugir às armadilhas
Da mata escura...
Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim...
Abrir o peito
À força numa procura
Fugir às armadilhas
Da mata escura...
Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim...
Lá, Underá, Underá, Lá
Lá, Underá, Underá, Lá...

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A natureza do domínio exercido pelo Estado sobre a sociedade: apontamentos de leitura

Por Ernaldina Sousa Silva Rodrigues

A teoria liberal defende a ideia de que a vida em sociedade não é o ambiente natural do homem, mas um artifício fundado em um contrato social. Esse contrato que funda a sociedade civil foi precedido por um estado de guerra (exceto para John Locke) e um estado de natureza, no qual as relações humanas eram regidas pelo Direito Natural. Nesse sentido, o Direito Natural constitui a única base legítima do Direito Civil. Sendo assim, somente por meio da razão seria possível conhecer os direitos naturais para, com base neles, estabelecer os fundamentos de uma ordem política legítima. Então, sob a ordem civil os direitos naturais dos indivíduos têm necessariamente de ser preservados. A renúncia a qualquer desses direitos – ainda que voluntária – seria sempre legítima, pois equivaleria à abdicação da própria humanidade.

Para a teoria marxista, antes que surgissem as primeiras civilizações, o modo de produção predominante teria sido o do “Comunismo primitivo”. Neste modo, a humanidade viveria organizada em tribos, não haveria Estado, divisão social do trabalho, classes sociais, nem propriedade. A produção e o consumo seriam produtivos, não havendo excedente de riqueza. No comunismo primitivo, os homens viveriam na mais absoluta igualdade, mas também na escassez e na miséria. A produção de um excedente econômico só seria possível a partir da invenção da agricultura e da divisão social do trabalho, que traria consigo a divisão do grupo social em diferentes classes, as quais, por sua vez, iriam se apropriar de forma distinta da riqueza produzida, ensejando assim o surgimento de uma classe dominante sobre uma ou mais classes dominadas. Seria a partir desse momento que surgiria o Estado com a função de garantir a dominação de classe. Sendo assim, a natureza desse domínio se faz para atender aos interesses econômicos de uma determinada classe, a burguesia.

Referência: 

COELHO, Ricardo Corrêa. Estado, governo e mercado / Ricardo Corrêa Coelho. - Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília]: CAPES: UAB, 2009.


terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O tempo da ausência: desabafo


Por Ernaldina Sousa Silva Rodrigues

Já são 11 anos e três dias sem a sua presença física, minha bela flor menina. Impossível não contar os anos, os meses, os dias, as horas quando o assunto ou a lembrança é a ausência de um ente querido.  

Tenho uma amiga que brinca: “você ainda persegue essa questão do tempo...”. É, persigo. E tem como não perseguir? Os acontecimentos dessa nossa vida nos fazem lembrar que vivemos convencionados  pelo calendário. Essa peça do tempo nos faz lembrar a diversidade de datas em nossa vida.  

Com relação à morte ou a passagem para outra vida de um ente querido, vivemos o tempo da ausência. Para viver sem a presença de uns e conviver com a ausência de outros, é preciso reaprender a viver todos os dias. O reaprender a viver me fazer rememorar Érico Veríssimo quando diz que “a vida começa todos os dias”. Todos os dias é preciso saber lidar ou pelo menos tentar viver com a ausência de pessoas queridas, especiais.  

Uma das formas que encontro para aliviar a dor da ausência é escrever. Nesse caso, escrevo para expressar que nesses 11 anos de sua ausência física minha menina, a dor não mudou... Apenas aprendi a conviver com ela  aumentando o sentido de tudo que está em minha volta. Não é nada fácil, mas é preciso; senão, fico sufocada e me perco. Às vezes, gosto de me perder, principalmente, nas lembranças de sua meiguice, candura, amor, inteligência, doçura, sabedoria... Quem teve o privilégio e a honra de te conhecer sabe do que estou falando. Sua pureza de espírito encantava e alegrava a vida dos que conviveram com você.  

Os quase 13 anos de sua permanência nessa vida terrena me faz refletir sobre a essência do amor, a necessidade da perseverança, da persistência, da alegria e do desprendimento em minha vida, além do que é essencial no mais íntimo do meu ser.  Acredito que o propósito de Deus para a sua vida ultrapassa qualquer entendimento. Isso ajuda a consolar o meu coração. Você é um anjo que alçou voo e foi morar nos braços de Deus. Parece que foi ontem. Saudade não tem lugar. Impossível não contar o tempo...

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A liberdade e a igualdade no sistema econômico capitalista: apontamentos de leitura

Por Ernaldina Sousa Silva Rodrigues

Segundo Marx, a liberdade e a igualdade entre os homens conseguiriam andar juntas no sistema econômico capitalista, a partir do momento que o proletariado utilizasse toda a força do Estado para acabar com a sociedade de classes, ou seja, acabar com as classes sociais, restabelecendo a igualdade inicial entre os homens. Quando as classes estivessem sido finalmente abolidas, o próprio Estado deixaria de existir, pois teria perdido completamente a sua função, que seria a de garantir a dominação de uma classe sobre as demais. Com isso, o capitalismo libertaria o homem das condições de dominação existentes nas sociedades tradicionais e soltaria as amarras que até então impediam o pleno desenvolvimento das forças produtivas nas sociedades humanas. Nesse sentido, os homens seriam livres e iguais.

Se por um lado Marx acreditava que o pleno desenvolvimento do capitalismo era uma condição necessária para a implantação do socialismo, por outro lado, John Locke  afirmava que "ser livre é poder fazer ou não fazer o que se quer". A liberdade do ser humano aparece como a responsabilidade de cada um, pelos seus atos, não pela sua vontade. Locke tratava do estado natural para justificar a liberdade. Para ele, todos somos iguais e independentes, sendo que ninguém poderá prejudicar o outro em sua vida, saúde, liberdade ou posses.

Partindo dessas teorias e com base:
1) no Art. 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, segundo a qual “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”. e
2) no Art. 5º da Constituição Federal, que afirma serem “todos são iguais perante a lei”, percebe-se que liberdade e igualdade andam juntas somente perante a lei.

Se analisarmos o termo liberdade em um sentido mais amplo, temos o direito de ir e vir, de expressar, de falar, de pensar; a liberdade de crença, de inviolabilidade do direito à vida, à segurança e à propriedade. A liberdade pressupõe, segundo as leis, tratamento “igual” para "todos". Como vivemos em uma sociedade de classes onde: existem extremos de riqueza e pobreza, pessoas que ainda morrem de fome, analfabetos, ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres, desempregados etc, podemos afirmar que a igualdade faz parte apenas da vida de alguns, enquanto outros a aspiram. O que se presencia é a concentração e a acumulação de riquezas gerando muitas desigualdades sociais.

Referência:

COELHO, Ricardo Corrêa. Estado, governo e mercado / Ricardo Corrêa Coelho. – Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 2009.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Paciência

 

Paciência 

Lenine

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não para
Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso, faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara
Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência
Será que é tempo
Que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo
Pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para não
Será que é tempo
Que lhe falta pra percebe?
Será que temos esse tempo
Pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para não
A vida não para

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Relação entre Estado, Governo e Mercado no Brasil ao longo do século XX: apontamentos de leitura

Por Ernaldina Sousa Silva Rodrigues


O Estado é uma organização que exerce o poder supremo sobre o conjunto de indivíduos que ocupam um determinado território. Sendo assim, não admite concorrência e exerce de forma monopolista o poder político que é o poder supremo nas sociedades contemporâneas. A preponderância do Executivo sobre os demais poderes do Estado se justifica pelas seguintes razões:
  • é o Poder Executivo, ou seja, o governo, que dispõe dos meios coercitivos do Estado;
  • é o governo que, por meio do seu aparato coercitivo, garante o cumprimento das decisões dos outros poderes e executa as políticas do Estado. É ao governo que compete recolher os impostos que sustentam o funcionamento de todos os poderes do Estado;
  • são as instituições do governo que garantem a segurança interna dos cidadãos;
  • é o governo que exerce o poder de polícia do Estado, que vai da fiscalização do cumprimento das normas à punição dos infratores.
  • é o governo que transforma em atos a vontade do Estado, o que é suficiente para fazer dele o poder preponderante sobre todos os demais;
Por outro lado, O Mercado pode ser definido como um sistema de trocas do qual participam agentes e instituições interessados em vender ou comprar um bem ou prestar ou receber um serviço.

Corrêa (2009) afirma que as relações entre Estado e Mercado nunca se repetem no tempo, renovando-se constantemente. O autor usa a dinâmica pendular para explicar as relações entre Estado e Mercado. Para ele, quando o pêndulo social chega ao seu ponto máximo à direita e os mecanismos de mercado mostram-se insuficientes para estimular o investimento privado, o desenvolvimento econômico e o bem-estar social, a sociedade começa a inclinar-se à esquerda, buscando cada vez mais a intervenção do Estado como forma de corrigir as falhas de mercado, sanar as suas insuficiências e recriar as bases para a retomada dos investimentos, a expansão da economia e o aumento do bem-estar.

De outro modo, quando o pêndulo social atinge o seu ponto máximo à esquerda e a intervenção do Estado na regulação da vida social e econômica não se mostra mais capaz de promover o crescimento econômico e o bem-estar dos indivíduos – passando a ser percebido como um empecilho ao investimento privado, que é a condição necessária para a expansão econômica nas sociedades capitalistas, tem início o movimento oposto da sociedade em direção à direita, com a retração do Estado em favor dos mecanismos de regulação de mercado.

O autor complementa ressaltando que a alternância contínua entre os princípios opostos explica-se pela impossibilidade de se encontrar o ponto de equilíbrio entre ambos e pelas virtudes e vícios de cada um, além das transformações do pensamento sociopolítico de cada sociedade em determinada época. Nesse sentido, o Estado figura como o contraponto indispensável ao mercado nas sociedades capitalistas.

A relação entre Estado, Governo e Mercado, segundo Coelho (2009), é uma “reflexão socialmente acumulada”, “com forte viés ideológico, alimentadas por diferentes visões de mundo, concepções e valores dos quais os indivíduos das sociedades contemporâneas, sem exceção, são portadores, conscientemente ou não.” (p.13).

As matrizes liberal e marxista procuram explicar essas relações. A matriz liberal tem raízes no pensamento dos filósofos iluministas (século XVII) e dos economistas da escola clássica do século XVIII. Por sua vez, a matriz marxista se inspira no pensamento do filósofo alemão Karl Marx.

Diante desse quadro conceitual, as correntes liberal e marxista se formaram combatendo as ideias e a ordem vigentes e propondo novas e mais justas formas de organizar a sociedade.

O pensamento liberal fundou-se no Jusnaturalismo e teve influência dos pensadores Thomas Hobbes, John Locke, Charles Louis de Secondat, barão de Montesquieu (1689-1755), e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Nesse estado todos os indivíduos são iguais por natureza e igualmente portadores de direitos naturais aos quais eles não podem, em hipótese alguma, abdicar: os direitos à liberdade e à propriedade. Por se tratar de direitos humanos inalienáveis, a preservação da liberdade e da propriedade dos indivíduos seria considerada pelos liberais como cláusula pétrea de qualquer contrato social. Toda ameaça ou tentativa de usurpação desses direitos seria sempre espúria, pois contraria a razão da existência do próprio Estado. Ao universalismo intrínseco dos valores liberais estaria ainda associado um radical humanismo, que romperia com o princípio do fundamento divino da lei e do poder dos governantes, também vigentes até o século XVIII. A ideia de que a união política surge de um pacto de submissão, por meio do qual cada indivíduo abre mão do uso legítimo da sua força física, transferindo-o ao Estado, repousa sobre a noção, até então desconhecida, de representação popular como fundamento do exercício do poder político.

Diferentemente do liberalismo, na corrente marxista a dinâmica das sociedades passa a ser compreendida e analisada a partir das relações estabelecidas entre os seus grupos sociais concretos e não mais indivíduos abstratos. Portanto, sob a ordem liberal dominante na sociedade capitalista – aparentemente livre e igualitária e pretensamente fundada nas leis da natureza – existiria de fato uma ordem burguesa, ou seja, que atenderia, antes de tudo, aos interesses econômicos da burguesia, assegurando o seu lugar de classe dominante na sociedade.

A matriz marxista defende a história da humanidade como a história das lutas de classe.  De acordo com essa concepção, o movimento da história não seria aleatório ou indeterminado, nem tampouco contínuo, mas se desenvolveria por meio de contradições, isto é, dialeticamente. O movimento dialético da história se daria no plano concreto das relações de produção da riqueza social.  Sendo assim, o movimento da história seria interpretado e explicado por meio do materialismo dialético. As classes sociais seriam identificadas e definidas por sua inserção no processo produtivo, resultante da divisão social do trabalho. Em cada período da história, as classes fundamentais de uma sociedade seriam aquelas diretamente ligadas ao modo de produção dominante. Esse modo de produção iria resultar da combinação das forças produtivas e das relações de produção. Marx explica que antes que surgissem as primeiras civilizações, o modo de produção predominante teria sido o do “Comunismo primitivo”. Então, a garantia da preponderância da classe dominante sobre a classe dominada seria a principal razão do surgimento e manutenção do Estado. A ideologia dominante em uma determinada sociedade seria também a ideologia da sua classe dominante. O sistema capitalista é baseado na exploração do proletariado pela burguesia. A mais-valia é a parte do valor criado pelo trabalho humano e não apropriada pelos trabalhadores.

A economia e a sociedade capitalistas passaram por mudanças  no plano político e econômico que afetaram o posicionamento das duas correntes. Coelho (2009) afirma que, ao longo do século XX, a matriz do pensamento marxista e a matriz do pensamento liberal iriam sendo enriquecidas com outras contribuições e aportes analíticos, de forma a poder continuar explicando um mundo cuja dinâmica não era mais passível de ser compreendida apenas pela ótica dos teóricos envolvidos. Diante dessa afirmação, pontua-se algumas mudanças:

a) Democratização das sociedades liberais com a adoção do sufrágio universal masculino. Com o surgimento da democracia, iria se abrir aos operários industriais a oportunidade de participar do processo político, elegendo seus representantes, influenciando a ação do Estado de dentro do parlamento e, eventualmente, chegando ao poder pela via eleitoral;

b) No campo marxista iria se afirmar a percepção de que o capitalismo havia mudado de padrão, deixando de ser um sistema concorrencial – em que as empresas disputavam um mercado em relativa igualdade de condições – para se tornar num sistema monopolista – em que grandes conglomerados dominariam, de fato, a produção, numa concorrência desigual com as empresas familiares e de menor porte;

c) Para os liberais duas importantes mudanças ocorridas nas sociedades capitalistas durante o século XX, que desafiavam a interpretação liberal dominante no século XIX, precisariam ser explicadas: a compatibilidade entre democracia e economia de mercado, e a convivência entre esta e a crescente intervenção do Estado no domínio das relações econômicas;

d) No campo liberal a anterior crença em um mercado autorregulado deu lugar ao reconhecimento da necessidade de intervenção do Estado na economia, embora a extensão dessa intervenção viesse a se tornar no grande ponto da discórdia;

e) De forma análoga a ideia anteriormente consensual de que governo da maioria e economia de mercado seriam incompatíveis iria se desfazer chegando inclusive ao seu oposto;

f)  Se a democracia dos antigos era, de fato, incompatível com o liberalismo, a democracia dos modernos passaria a ser vista como indissociável do liberalismo, tanto quanto os direitos civis e políticos que já compunham a sua matriz;

g) Assim, a democracia do século XX passaria a ser adjetivada de liberal e defendida ferrenhamente pelos liberais em contraposição não mais à democracia dos antigos, mas a uma outra concepção de democracia que iria surgir no campo de pensamento adversário: a que opunha à democracia formal, dos países capitalistas, a democracia popular, ou substantiva, dos países socialistas.

As relações entre Estado e mercado conheceriam situações extremas ao longo do século XX. É possível identificar quatro padrões de relação entre Estado e mercado que foram sucessivamente dominantes em todo o mundo, segundo Coelho (2009): O Estado liberal até a Primeira Guerra Mundial; o Estado de Bem-Estar Social e o Estado socialista, que são contemporâneos um do outro; e o Estado neoliberal.

As mudanças de um tipo de Estado para outro se explicam pelas mutações na estrutura produtiva das sociedades industriais na virada do século XIX para XX e no acirramento do embate entre as diferentes forças políticas no interior das sociedades e a confrontação entre as nações industrializadas movidas por seus interesses econômicos, em busca da ampliação e defesa de mercados.

O Estado liberal, também conhecido como Estado mínimo, se imporia na Europa Ocidental contra o poder ilimitado dos reis, que reivindicavam o exercício do poder absoluto como um direito divino. Depois, o poder exercido pela realeza passou a ser limitado por uma constituição. Essa forma de Estado caracterizava-se pela garantia do direito à propriedade privada e à liberdade econômica e independência aos indivíduos; garantia do direito e usufruto da propriedade, da proteção da vida, do direito de ir e vir dos seus cidadãos e da ordem pública; não intervenção do Estado na economia – mercado como instituição autorregulável; mercantilização das relações sociais; garantia da participação dos cidadãos nas decisões públicas por meio de representantes eleitos; adoção do sufrágio universal masculino; e a distância das classes sociais e neutralidade em relação aos seus interesses específicos.

O Brasil, no que se refere às relações entre Estado e Mercado  no plano da regulação das relações econômicas e sociais, foi equivalente aos estados liberais. O que ocorreu aqui não estava deslocado do que se passava no restante do mundo ocidental, considerando que o país sempre manteve estreitas relações econômicas, políticas e culturais com a Europa e os Estados Unidos. A crise de 1929 afetou o Brasil e favoreceu a adoção de um modelo econômico centrado na substituição de importações e na intervenção estatal. Os estragos da crise foram sentidos em todo o planeta e também no Brasil.

Após a crise de 1929, começaria a ser desenhada no Ocidente, o Welfare State Keynesiano, ou o Estado assistencial ou ainda, o Estado do Bem-Estar Social. Na visão de Coelho (2009), o Estado de Bem-Estar Social sucede o Estado liberal, intervindo na economia e nas condições sociais, visando melhorar os padrões de qualidade de vida da população. No Brasil foi criado durante o governo Vargas e era chamado de Estado desenvolvimentista em decorrência da regulação do mercado e da promoção do bem-estar por meio de políticas públicas de educação, saúde, previdência, habitação etc., teve também o papel de promotor da industrialização do país.

O autor (Coelho) discorre também que se nos países capitalistas centrais a era da industrialização coincidira com o Estado liberal e antecedera a era das políticas sociais, trazidas pelo Estado de Bem-Estar Social, no Brasil as fases de industrialização e de criação de políticas sociais foram concomitantes e coincidentes com o Estado de Bem-Estar Social. No Brasil a construção do Estado desenvolvimentista não viria apenas acompanhada de políticas sociais e de desenvolvimento econômico, mas também de uma importante ruptura política. A Revolução de 1930 pôs fim ao Estado oligárquico e ao sistema de organização institucional sobre o qual ele se baseava. Coube então ao novo Estado construir, a um só tempo, as novas bases de desenvolvimento econômico e acumulação capitalista e de legitimação de uma nova ordem política no país, com a incorporação das massas no processo político. A montagem do Estado desenvolvimentista e a implementação das políticas sociais no Brasil estavam diretamente relacionadas ao desenvolvimento industrial do país. Ainda que as primeiras leis sociais brasileiras datem do final do século XIX – quando o país ainda estava longe de iniciar o seu processo de industrialização – aquelas seriam casuais e isoladas, não podendo ser consideradas como pertencentes a uma política social.

No entanto, com a crise provocada pela dificuldade cada vez maior de harmonizar os gastos públicos com o crescimento da economia capitalista, ressurgem as ideias liberais sob a denominação de neoliberalismo. O Estado neoliberal seria protagonizado pelos governos de Margaret Thatcher (Reino Unido) e de Ronald Reagan (Estados Unidos). A agenda neoliberal seria baseada na desregulamentação, privatizações e abertura de mercados. Os defensores dessa agenda argumentavam ser necessário desregular os mercados porque o número excessivo de regras e controles estatais sobre a economia inibia os investimentos privados, comprometendo o crescimento econômico. A favor das privatizações, alegava-se que as empresas de propriedade do Estado seriam ineficientes e deficitárias, porque mantidas sob a proteção do poder público ao abrigo das leis do mercado. Com a privatização as empresas poderiam se tornar eficientes e lucrativas, além de tirar do Estado o ônus pela sua manutenção. A abertura dos mercados nacionais para a concorrência internacional, era tida como única forma de produzir uma modernização de todos os setores da atividade econômica, conferindo-lhes eficiência e competitividade.

Os liberais do passado propunham que o Estado deixasse de intervir nas relações econômicas entre os agentes privados para que o mercado pudesse funcionar adequadamente como mecanismo autorregulador. Já as críticas dos neoliberais ao Estado do Bem-Estar Social são dirigidas à sua intervenção específica do Estado em determinadas esferas das relações econômicas como o mercado de trabalho, mercado de capitais e mercados de bens e serviços. Quanto às políticas sociais, estas manteriam seu lugar na agenda do Estado como direitos de cidadania e instrumentos de promoção da equidade.

Uma das características marcantes do Estado neoliberal é o aumento das disparidades de renda entre ricos e pobres. Essas disparidades causam indignação, revolta e injustiças ameaçando a paz e a dignidade das pessoas.

Para Ricardo Corrêa Coelho (2009), comparar o Estado neoliberal às formas de Estado passadas é sem dúvida difícil. Para compará-la, há necessidade de um distanciamento temporal.

O que podemos considerar é que as duas matrizes, liberal e marxista, animam e guiam até hoje a ação dos indivíduos no Estado e no mercado. 

Referência: 

COELHO, Ricardo Corrêa. Estado, governo e mercado / Ricardo Corrêa Coelho. - Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília]: CAPES: UAB, 2009.