terça-feira, 23 de setembro de 2014

Os anos da infância (e a força do hábito) – A. Furútan

Depois da puberdade é extremamente difícil educar o indivíduo e aprimorar seu caráter. A experiência mostra que, após a puberdade, mesmo que sejam envidados todos os esforços para modificar algumas de suas tendências, nada surtirá efeito. Talvez melhore um pouco hoje, mas em poucos dias tudo é esquecido e ele volta ao seu estado habitual e às suas maneiras costumeiras. Portanto, é na primeira infância que o sólido alicerce deve ser assentado. Enquanto o ramo é verde e tenro, podemos facilmente endireitá-lo.( ‘Abdu’l-Bahá, Educação Bahá’í; uma compilação.)

O período da infância humana é muito longo. Alguns psicólogos infantis consideram que a criança é imatura até atingir os 12 anos, enquanto outros afirmam que isso ocorre por volta dos 14. Esses anos seriam “os anos da infância”. Citando o poeta Hakim Nizamí:

Um dia, quando apenas sete anos tinhas, eras como a flor nas campinas. Mas agora tens quatorze e és um cipreste que se arroja aos céus. Não é hora de insensatez, não é hora de brincar. Chegou o dia de aprender as artes, chegou o dia de tua glorificação. 

Um peixe, desde seu primeiro dia de vida, é independente e não precisa de qualquer ajuda. Porém, não é isso que ocorre com nossa espécie. O ser humano nasce indefeso e desprotegido e depende dos outros por um longo período de tempo. Existe uma grande sabedoria na longa duração da infância – e todo educador deveria estar bem consciente dessa sabedoria! Se os pais não dedicarem a este assunto toda a atenção que merece, talvez deixem passar uma oportunidade de ouro e, por pura falta de conhecimento, involuntariamente tornem amarga e melancólica a vida dos filhos. Esses pais podem ser comparados ao indivíduo que, por negligenciar o princípio da parcimônia, dissipa sua fortuna e seus bens e acaba ficando pobre, desmoralizado e dependente da caridade dos outros.

Está bastante evidente que a razão para o longo período da infância é permitir que, sob a orientação de educadores, as faculdades físicas e mentais da criança se fortaleçam, tornando possível adquirir o aprendizado essencial e absorver as características louváveis que lhes são necessárias para enfrentar a vida – esta nossa vida que, às vezes, é muito difícil ou, até mesmo, amarga e desagradável. As crianças gradualmente se preparam para os estágios seguintes da vida, de modo a poderem enfrentar com coragem os desafios do mundo e harmonizar seus instintos naturais com as necessidades da sociedade à sua espera. Além disso, é necessário que tenham recursos suficientes para o amadurecimento de suas faculdades físicas (aos 25 anos) e de suas faculdades espirituais (aos 35 anos).

A experiência mostra que a criança aprende facilmente com o educador antes de amadurecer; depois desta idade, o treinamento e a educação se tornam extremamente difíceis. Ou seja, ao sairmos da infância e nos aproximarmos da maioridade, a educação se torna proporcionalmente mais complexa. Portanto, os pais e professores devem aproveitar ao máximo os anos da infância, sem desperdiçar esta oportunidade inestimável, conscientes de que cada hora – não, cada minuto! – desses anos tem um propósito específico; conscientes de que cada momento negligenciado da infância representará uma perda no futuro.

Quando vai cruzar águas perigosas o marinheiro não hesita em equipar adequadamente seu barco. Para chegar são e salvo ao destino e fazer seu barco enfrentar incólume as ondas gigantescas e tempestuosas, é claro que o marinheiro precisa ter a prudência necessária. Do mesmo modo, ao conduzir o barco de seu precioso filho através dos mares revoltos da vida social, a primeira coisa que os pais devem fazer é tomar todas as providências para que esse barco alcance a margem da salvação e lhe proporcionar todo o necessário para a longa e arriscada travessia.

Alguns pais não dedicam ao período da infância a atenção que esta merece; ao contrário, acreditam que podem deixar os filhos gastarem seu tempo conforme suas próprias inclinações e exigências, e sem nenhuma oposição. Esses pais têm a esperança de que, quando seus filhos crescerem, a percepção e a compreensão aflorem de modo automático e os filhos percebam por si mesmos o que fazer e como se portar em sociedade. Esses pais se assemelham ao jardineiro que deixa de escorar um galho novo ou de aparar os ramos, na esperança de que a árvore corrija a si mesma à medida que for crescendo e se fortalecendo. Disse o famoso poeta Sa’di:

A felicidade escapará ao homem que não foi educado na infância. Reflete: o ramo verde pode ser direcionado, mas o galho seco só se endireita pelo fogo.

(Extraído do livro “Mães, Pais e Filhos”; Editora Bahá’í do Brasil, 2002.)

Alí-Akbar Furútan (29 de abril de 1905 – 26 de novembro de 2003) – foi uma das figuras mais queridas do mundo bahá’í, ele influenciou milhares de vidas através de seu humor, carinho e sabedoria. Foi portador do posto de Mão da Causa de Deus e, no momento de sua morte, um dos dois únicos membros sobreviventes desta companhia. O Sr. Furútan nasceu em Sabzivárí, Irã, em 29 de abril de 1905; seus pais, Muhamad-’Alíy-i-Sabzivárí e Sughra Furútan. Em parte por causa da perseguição e ameaças que seu pai recebeu após se tornar bahá’í, a família se mudou para Ashkhabad, Turquestão russo (agora parte do Turquemenistão), onde o jovem ‘Alí pode frequentar uma escola bahá’í para meninos. Quando jovem, o Sr. Furútan recebeu uma bolsa de estudos para a Universidade de Moscou, a partir da qual ele graduou-se em educação e psicologia.

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