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sexta-feira, 8 de junho de 2018

A pequena casa: uma parábola para ver a vida com outros olhos

Por Pensar Contemporâneo


Um homem, subjugado pela difícil situação em que vivia, foi a um rabino pedir conselhos.

– Rabino, minha casa é muito pequena. Eu moro com minha esposa, meus filhos e meus sogros em uma sala, então entramos no caminho um do outro. Passamos o dia gritando um com o outro. Eu não sei o que fazer – ele disse em um tom desesperado.

O rabino perguntou se ele tinha uma vaca. O homem respondeu sim, então ele a aconselhou a colocá-la dentro da casa também. O homem ficou perplexo com o conselho do rabino, mas o seguiu ao pé da letra, de modo que, uma semana depois, voltou reclamando que morar junto era muito mais desagradável do que antes.

– Também coloque suas duas cabras em casa – o rabino o aconselhou.

Mais uma vez, o homem seguiu o conselho, mas retornou novamente explicando que a situação havia piorado. O rabino perguntou a ele que outros animais ele tinha. Quando o homem respondeu que só tinha um cachorro e algumas galinhas, o rabino disse a ele para colocá-los na casa e retornar na semana seguinte.

Desconcertado, o homem voltou para casa e seguiu o conselho do rabino, mas desta vez, quando voltou, ficou fora de si.

Isso é insuportável! Eu tenho que fazer alguma coisa ou vou ficar louco. Por favor, ajude-me!

– Ouça com atenção: pegue a vaca e leve-a para o estábulo, leve as cabras para o curral, deixe o cachorro fora de casa e devolva as galinhas para o galinheiro. E em poucos dias venha me ver novamente. Quando ele voltou, o homem estava eufórico.

Ah, rabino! Agora em casa há muito mais espaço, só há minha esposa, meus filhos e meus sogros. Que melhoria!

Existem situações difíceis de tolerar. Não há dúvida. Mas na maioria das vezes somos nós que perdemos a perspectiva e adicionamos mais pressão a uma realidade que não é tão ruim quanto a desenhamos. Às vezes, precisamos que as coisas piorem para valorizar o que tínhamos, como aconteceu com o homem da história. O problema é que nem sempre é possível voltar atrás.
A adaptação hedonista, ou porque não valorizamos o que temos

A adaptação é um mecanismo que nos permite sobreviver mesmo nas condições mais adversas. Quando nosso ambiente muda, implantamos uma série de recursos que nos permitem adaptar-nos às novas circunstâncias. Essa é a razão pela qual conseguimos superar a morte de uma pessoa amada ou uma perda importante.

No entanto, também nos adaptamos a eventos positivos. Nós nos adaptamos a situações que produzem prazer e alegria, a ponto de pararmos de avaliá-las e elas deixarem de produzir satisfação. É o que é conhecido como uma adaptação hedonista. Com o passar do tempo, a alegria e a excitação que despertaram algumas situações desaparecem, elas perdem sua novidade e começamos a tomá-las como garantidas.

O problema da adaptação hedonista é que, se não permanecermos atentos, cairemos num ciclo infinito de necessidades não satisfeitas, porque sempre desejaremos mais. Assim que atingimos um objetivo, parece insuficiente e desfrutamos muito pouco do que alcançamos, porque já temos nossas metas definidas no próximo objetivo. De fato, Napoleão Bonaparte disse que “a ambição nunca para, nem mesmo no auge da grandeza “.

Essa é a razão pela qual muitas pessoas não se sentem satisfeitas, embora aparentemente tenham tudo de que precisam para serem felizes.

Gratidão como um caminho para alcançar a felicidade

Na parábola, as circunstâncias em que o homem vivia não mudavam, o que mudou radicalmente foi a sua maneira de ver a realidade. Isso não significa renunciar e levar uma vida amarga. Nem significa desistir dos nossos sonhos. Significa apenas ser capaz de ver o lado positivo da situação em que nos encontramos e experimentar gratidão.

Durante séculos, o budismo afirmou que a gratidão é a chave para a felicidade e a paz interior. Agora diferentes experimentos psicológicos provaram isso. Psicólogos da Universidade da Califórnia e de Miami, por exemplo, recrutaram 192 pessoas e as dividiram em três grupos: Alguns deles foram convidados a escrever as coisas pelas quais haviam sido gratos durante a semana, outros tiveram que anotar as coisas que os incomodavam e outros simplesmente tiveram que manter um diário dos eventos positivos e negativos que aconteceram com eles.

Depois de 10 semanas, aqueles que escreveram sobre gratidão não apenas relataram sentir-se mais felizes, mas também estavam mais otimistas e mais satisfeitos com suas vidas. Como se isso não bastasse, eles também visitaram o médico menos do que o restante das pessoas.

O poder da gratidão é porque transforma o que temos em suficiente. Em vez de nos concentrarmos no que nos falta e ver apenas as coisas negativas, aprendemos a focar no lado positivo e valorizar muito mais o que temos. Embora estejamos conscientes de que há espaço para melhorias, somos capazes de ver a vida a partir de uma perspectiva mais positiva que nos ajuda a tolerar melhor o que nos incomoda.

Essa mudança de perspectiva não leva à estagnação, mas nos permite viver melhor a vida que temos, até que possamos fazer as mudanças que queremos. Isso significa perseguir seus objetivos, mas não hipotecar sua vida para alcançá-los e, acima de tudo, não deixar sua felicidade depender de um futuro ilusório.

Fonte: Rincon de la Psicología - https://www.pensarcontemporaneo.com/pequena-casa-uma-parabola-para-ver-vida-com-outros-olhos/.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Não desistirmos de nós mesmos

A alegria vem de não desistirmos de nós mesmos, de atentamente permanecermos conosco e começarmos a experimentar nosso grande espírito guerreiro.

A chave é estar aqui, totalmente ligados no momento, prestando atenção aos detalhes da vida normal. Ao cuidarmos de coisas normais – nossos potes e panelas, nossas roupas, nossos dentes – nós nos rejubilamos com elas. Quando lavamos um legume, ou penteamos o cabelo, estamos expressando apreciação: amizade para conosco e para com a qualidade viva que se encontra em tudo. Esta combinação de consciência plena e reconhecimento nos conecta totalmente com a realidade e nos traz alegria. Ao estendermos atenção e reconhecimento para nosso ambiente e para as outras pessoas, nossa experiência de júbilo fica ainda maior.

Na tradição zen, os alunos são ensinados a fazer reverência para outras pessoas, bem como para objetos comuns, como uma maneira de expressar seu respeito. São ensinados a zelar igualmente por vassouras, vasos sanitários e plantas, para demonstrar sua gratidão para com elas.

Rejubilar-se com coisas comuns não é sentimental ou trivial. Na realidade, exige coragem. Cada vez que abandonamos nossas queixas e permitimos que a boa sorte do dia-a-dia nos inspire, entramos no mundo do guerreiro. Podemos fazê-lo mesmo nos momentos mais difíceis. Tudo o que vemos, ouvimos, provamos e cheiramos tem o poder de nos fazer mais fortes e de nos animar.

Fonte: Monja Pema Chödrön. Trechos do capítulo 10 do livro “Os lugares que nos assustam” 2014 - Editora Sextante.

domingo, 8 de dezembro de 2013

“Estou preparado para morrer por meu ideal”: o legado de Madiba

Madiba
Madiba

O artigo abaixo é de autoria de Washington Araújo, jornalista, escritor e professor universitário. Araújo mantém o blog Cidadão do Mundo.

Noventa e cinco anos de uma vida bem vivida – assim foi Madiba, nome do clã a que Nelson Mandela pertencia e o nome carinhoso com que sua tribo o chamava.

Madiba transbordou de uma individualidade a mais no luminoso continente africano para se transformar em um dos mais vigorosos apelos para sermos melhores seres humanos, melhores cidadãos, melhores amantes da fraternidade universal e mais apaixonados por ideais como liberdade e justiça.

Madiba entrou na prisão aos 46 anos, em 1964 e foi libertado aos 73 anos, em 1991. Pronunciou contundente discurso de defesa ante o tribunal que o sentenciara. Naquele último dia de liberdade que somente terminaria 27 anos depois, Madiba disse, punho para o alto, mão cerrada: “Eu lutei contra a dominação branca, e lutei contra a dominação negra. Eu cultivei o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem juntas em harmonia e com oportunidades iguais. Este é um ideal que eu espero viver para alcançar. Mas, se for necessário, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer.”

A vida do cidadão do mundo Mandela é singular em diversos aspectos, não é linear, mas cheia de altos e baixos e é muito melhor descrita por tudo o que ele, mesmo podendo ser, decidiu solenemente não ser.

Madiba não buscou fama, mas a fama lhe chegou por sua integridade de alma.

Madiba nunca foi ríspido, grosseiro, descortês, petulante ou arrogante. Ao contrário, mostrou sempre ser uma pessoa afável, amena, e em seu rosto as imagens revelam um sorriso franco, sincero, amigo.

Madiba nunca levantou o braço para bater em outro ser humano, mulher então, nem pensar; idoso, também jamais, e muito menos deu demonstrações de desapreço e menosprezo para com aquela torrente de jornalistas que lhe perseguira nos últimos 30 anos de vida.

Madiba foi digno tanto em seus longos 27 anos de prisão quanto em seus anos como presidente da África do Sul – o poder não o deslumbrou, mas ele soube trazer dignidade ao poder a ponto de ao concluir seu mandato como chefe de Estado continuou sendo aquele que melhor personificava a alma de sua nação.

Madiba não obteve seu reconhecimento como líder autêntico de um povo e nem alcançou essa  condição de rara unanimidade devido à cor de sua pele. Não, Madiba não foi beneficiado com ações afirmativas e, ao contrário, muito sofreu os rigores do odioso racismo, as dores de uma brutal discriminação racial.

Madiba não era aquele tipo de personalidade que, semelhante à mariposa, está sempre em busca dos holofotes midiáticos, sempre pronto para falar de seus feitos, de suas vitórias, de suas conquistas, sejam para si, sejam para seu povo.

Não, Madiba é um dos  maiores ícones do século XX, a par com personalidades como Mahatma Gandhi e o reverendo Martin Luther King Jr.

Madiba não era vingativo e não consta qualquer gesto seu de agressão, e mesmo investido da Suprema Magistratura da África do Sul, não se conhece fato em que haja se empenhado para processar, julgar, condenar, prender seus algozes brancos, algozes também da inteira população de sua pátria, algozes que criaram um dos mais tenebrosos regimes de escravidão jamais registrados na história humana – o famigerado Apartheid.

Aquele regime em que bancos de praças públicas negros não podiam se sentar, ônibus e táxis que podiam ser utilizados apenas por brancos e proibidos para negros, escolas para brancos e fechada aos negros, bebedouros para brancos e assim por diante. Não, Madiba não era vingativo. E nem tripudiava contra aqueles que em algum momento foram por ele considerados como desafetos.

A Madiba vários direitos humanos fundamentais foram negados: não recebeu julgamento justo, continuou discriminado nos muitos anos como presidiário por ser negro, e até mesmo breves gestos de humanidade também lhe foram subtraídos, como a autorização para assistir aos funerais de sua mãe (1968) e depois o de seu filho mais velho (1969).

Em 1993, Madiba e Frederik de Klerk dividiram o Prêmio Nobel da Paz, por seus esforços para trazer a paz ao país. E, desde aquele ano tomou a frente de uma série de articulações políticas que culminaram nas primeiras eleições democráticas e multirraciais do país em 27 de abril de 1994.

O CNA ganhou com 62% dos votos, enquanto o Partido Nacional teve 20%. Com o resultado, Madiba tornou-se o primeiro líder negro do país e também o mais velho, com 75 anos. E, dando vazão ao anseio reprimido por gerações de sul-africanos, sua gestão, iniciada em 10 de maio de 1994 foi marcada por políticas antiapartheid e reformas sociais.

Avesso a homenagens laudatórias, deve ter esboçado um sorriso encabulado ao saber em 2009 que a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas anunciou que o dia de seu aniversário seria celebrado em todo o mundo como o Dia Internacional de Mandela, uma iniciativa para estimular todos os cidadãos a dedicar 67 minutos a causas sociais – um minuto por ano que ele dedicou a lutar pela igualdade racial e ao fim do apartheid.

Madiba não foi um dos heróis do Pedro Bial em suas patéticas e onipresentes aparições no famigerado Big Brother Brasil.

Madiba não foi capa de revista de Johannesburgo, saudado como salvador da pátria e tendo como fundo a foto de um menino negro pobre e desvalido, destinada a angariar piegas homenagens e baratas emoções.

Madiba, longe de se vangloriar com tamanho reconhecimento mundial – virou até estatua em tamanho natural na Praça do Parlamento, em Londres, coração do imperialismo que ele tanto combateu ao longo de sua existência –, aproveitou sua vida para dignificar a vida dos sofridos, oprimidos e condenados da Terra.

E por isso Madiba permanecerá eterno nas melhores recordações de um tempo em que a presente Ordem mundial demonstrou estar lamentavelmente defeituosa, cheia de rachaduras e incompreensões quanto à verdadeira natureza humana e espiritual da espécie humana.

E quando algum dia décadas vindouras um injustiçado gritar o nome “Madiba!” diversas vozes ecoarão em sua consciência “Presente! Presente! Presente!”

Fonte: <http://www.diariodocentrodomundo.com.br/estou-preparado-para-morrer-por-meu-ideal-o-legado-de-madiba/>