Por Ernaldina Sousa
Silva Rodrigues
Antes do advento da máquina a
vapor, o homem usava a energia natural. Com o surgimento da máquina a vapor, a
humanidade sofreu alterações cruciais como as que ocorreram com a Revolução
Industrial no Século XVIII. Nessa época, fervilhavam as ideias em torno do
cientificismo, tendo a ciência como a única fonte de conhecimento possível e o
método das ciências da natureza o único válido. Nesse contexto, Auguste Comte
(1798-1857), francês, desenvolveu o seu pensamento positivista. Os positivistas
reduzem o trabalho da filosofia à mera síntese dos resultados das diversas
ciências particulares. O aparecimento dos positivistas deveu-se a crítica feita
por Immanuel Kant, filósofo alemão, à metafísica na Crítica da razão pura juntamente com os idealistas.
Comte é considerado o fundador da sociologia como ciência.
O Curso de Filosofia Positiva, de autoria de Comte,
divide-se em duas lições. Cada lição conta com um sumário que favorece uma
visão panorâmica sobre os temas tratados.
A primeira trata da finalidade do
curso. O autor explica a evolução
histórica do espírito humano, da humanidade da filosofia com a teoria dos três
estados sucessivos: o estado teológico ou
fictício, ligado aos mitos, às crenças, aos deuses e à religião. O estado ou sistema metafísico, destinado
a servir de transição, de explicar o modo de geração dos fenômenos, onde o espírito humano é movido por força abstratas,
personificadas, verdadeiras entidades inerentes aos diversos seres do mundo. O
estado positivo, o espírito humano é
fixo e definitivo, preocupa-se em descobrir suas leis efetivas e a saber suas
relações invariáveis de sucessão e de similitude.
Exalta o estado positivo como
fundamental na idade viril ou madura do espírito humano, desprezando o
teológico e o metafísico. A filosofia
positiva é o verdadeiro estado definitivo da inteligência humana, porque
possibilita a observação e a formação de teorias reais. Todos os fenômenos são
tomados como sujeito a leis naturais invariáveis. Nesse estado, a filosofia
positiva apenas descreve os fenômenos, sem explicá-los. Se tais explicações
ocorressem, cairia na visão teológica e metafísica.
Comte ressalta a divisão do trabalho
intelectual como sendo um dos atributos da filosofia positiva por ser a base da
organização do mundo do trabalho dos cientistas e a sistematização das
ciências. Para o aperfeiçoamento dessa divisão, forma-se uma seção sobre o estudo
das generalidades científicas controlada por uma classe distinta de novos cientistas.
O estudo da filosofia positiva
tem a vantagem, segundo Comte, de tornar-se racional as leis lógicas do
espírito humano. Recusa a introspecção e critica o método subjetivo empregado
na psicologia como ilusório, permeado pela abstração das causas e dos efeitos,
sem tese lógica, baseado em sonhos e impossibilitado de promover a observação
dos fenômenos intelectuais.
O método positivo consiste na
observação e na produção de um conhecimento nítido e profundo das
investigações, manifestado pela experiência das leis.
Na visão do autor, a reforma geral do sistema de
educação consiste em substituir a educação europeia, impregnada pela teologia,
metafísica e a literatura, pela educação positiva. A essa reorganização
educacional e racional, seria acrescentado o estudo das generalidades
científicas, sucedendo à educação geral.
Extremamente pretensioso no
pensar, Comte considera a filosofia positiva como a única base sólida capaz da
reorganização social frente à desordem causada pelas filosofias teológicas e
metafísica.
Com o termo “ Nada mais resta”,
Comte reduz a filosofia a um único corpo de doutrina homogênea, à síntese de
resultados das ciências específicas, ao fato positivo. A filosofia positiva
seria a redentora da sociedade frente à crise revolucionária. Sendo assim, a filosofia
de Comte restabeleceria a ordem na sociedade.
Na Segunda Lição do Curso, o
autor expõe o plano, a classificação racional das ciências positivas. A
classificação das ciências propostas até aquele momento tinham fracassado pela
incompetência dos filósofos e pelo caráter prematuro de suas tentativas. Diante
disso, as circunstâncias seriam favoráveis ao positivismo, tendo os filósofos
da área de botânica e zoologia dado o suporte ao modelo das classificações
provindas do próprio estudo dos objetos a serem classificados. O princípio é
classificar os objetos, após a observação, eliminando as considerações a
priori. Distingue os conhecimentos teóricos e práticos. A filosofia deve
considerar os conhecimentos das teorias científicas, da pesquisa teórica e
desconsiderar a prática ou as ciências particulares. Sendo qualquer
classificação das ciências necessariamente artificial, a obrigação do filósofo
seria combinar a exposição histórica com a exposição dogmática. O importante
seria o conhecimento da história das ciências.
Comte divide as ciências naturais
em Física inorgânica ou corpos brutos e física orgânica ou corpos organizados. Em seguida, o autor faz
um resumo da classificação das ciências, sendo a matemática, a astronomia, a física,
a química, a filosofia e a física social. Explica as propriedades dessa
classificação, especificando os aspectos históricos das ciências.
O Curso Filosofia Positiva é uma
obra clássica e Comte postula o fundamento de uma doutrina positivista.
Formulou a lei dos três estados, promoveu a classificação das Ciências e fundou
a sociologia. O positivismo despreza a sensibilidade, o sentimento, a
introspecção. Ressalta e prima pelo que é observável, que pode ser medido, que
produza resultados palpáveis. Na realidade, Comte faz uma apologia à filosofia
positiva, tida como a verdadeira e salvadora da humanidade. Tudo está reduzido
ao conhecimento científico.
Nossa realidade tem ranços da
filosofia positiva.
COMTE, Auguste. Curso de Filosofia Positiva. In: Os Pensadores. São Paulo: Ed. Abril, 1978, p. 1-39.
Muito bom, gostei muito! Um resumo completo da primeira lição de Comte. Excelente!
ResponderExcluir