terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Exogenia

Por Ernaldina Sousa Silva Rodrigues

Segundo o dicionário Aurélio, exógeno é “originado no exterior do organismo, ou por fatores externos”. Para Caldas (1997 apud Bergue, 2010) é a “[...] nossa fixação com o que vem de fora, do outro.”: o distanciamento de “nós mesmos”.  No cotidiano do brasileiro comum, das empresas e também da Administração Pública a exogenia pode ser definida como a  influência estrangeira na produção intelectual (na formação profissional, inclusive de agentes públicos) e nos elementos culturais que moldam as práticas gerenciais vigentes, com acentuada ênfase no campo da gestão. Esta influência é interpretada de forma elástica, ou seja, para todo conhecimento que advém de “fora” das fronteiras organizacionais.

Nesse sentido, a exogenia se dá  por meio da importação da cultura estrangeira, da importação do conhecimento gerencial: inspiração teórica e temáticas orientadoras dos estudos envolvendo o fenômeno da produção do conhecimento e, em particular, a transferência de conceitos e tecnologia gerenciais, a acentuada inspiração e dependência das fontes estrangeiras (autores de referência), o diferimento das publicações que contemplam o conteúdo importado (atraso no tempo), e o reduzido grau de originalidade. Sendo assim, podemos então dizer que na realidade o que ocorre é uma aculturação? É o contato de uma cultura com a outra e a sobreposição de uma cultura sobre a outra?

Essa importação influenciou importantes transformações na Administração Pública e privada brasileira, especialmente a partir da década de 1930 com a instituição do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP).

A exogenia gera a adoção ou a adaptação ao que vem de fora, provocando o distanciamento de nós mesmos e a submissão ao conteúdo estrangeiro. A submissão ao conteúdo estrangeiro gerou reflexos nos valores que tanto preponderam na formação em gestão contemporânea quanto legitimam os pressupostos fundamentais da Administração Pública gerencial. A adoção de tecnologia ou valores estrangeiros de forma acrítica muitas vezes também mostrou que não sabemos até que ponto importamos ou apenas fazemos de conta.

Referência: 

BERGUE, Sandro Trescastro. Cultura e mudança organizacional / Sandro Trescastro Bergue. – Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 2010.

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