terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O professor como prático reflexivo: apontamentos de leitura


Por Ernaldina Sousa Silva Rodrigues

Kenneth M. Zeichener é considerado um dos pensadores mais expressivos na área de formação inicial de professores. Os seus textos têm como foco a realidade dos Estados Unidos, mas vão além da realidade americana. É natural da Filadélfia e tem um longo percurso e experiência no ensino e na formação de professores. Nessa trajetória, foi professor do ensino básico, dirigiu programas de preparação de professores e um centro de ensino urbano. É diretor do programa de formação de professores da Universidade de Wisconsin-Madison.

Como os professores aprendem a ensinar? Como ajudar os professores a aprenderem a ensinar? Essas indagações constituem o problema de investigação de Zeichner. Para dar conta dessas questões, o autor começa a refletir sua própria prática enquanto formador de professores juntamente com outros colegas.

Zeichner aponta a problematização da prática como primeiro passo para o processo de reflexão. Afirma as suas crenças nos professores que têm consciência de seus objetivos e discorre sobre os seus esforços em promover a causa da profissionalização dos professores.

O que é este movimento da prática reflexiva e qual a razão do seu aparecimento? Pergunta o autor. Os termos prático reflexivo e ensino reflexivo tornaram-se slogans da reforma do ensino e da formação de professores por todo o mundo na última década. As razões decorrem da Racionalidade Técnica que tem o professor como técnico, passivo e limitado. A produção do conhecimento sobre o ensino de qualidade é feita pelas universidades que ignoram os conhecimentos e a experiência dos professores.

O professor como prático reflexivo é aquele que reflete sua própria experiência e reconhece que o processo de aprender a ensinar se prolonga durante sua carreira. Os programas de formação de professores podem preparar os professores para começarem a ensinar e ajudá-los a interiorizarem, durante a formação inicial, o estudo da maneira de como ensinam para melhorarem com o tempo e assumirem a responsabilidade pelo seu próprio desenvolvimento profissional.

Baseado na concepção de John Dewey sobre o ato humano e nas atitudes necessárias para a ação reflexiva: a abertura de espírito, responsabilidade e sinceridade, e no conceito de Donald Schön de que reflexão é “um processo que ocorre antes e depois da ação e, em certa medida, durante a ação, Zeichner enfatiza a reflexão como um processo e prática social. Ensino reflexivo como o ato dos professores criticarem e desenvolverem suas teorias práticas à medida que refletem sozinhos e em conjunto na e sobre a ação acerca do seu ensino e das condições sociais que modelam as suas experiências de ensino.

Zeichner traça as características que minam a emancipação dos professores nos programas de formação criando a ilusão da reflexão e descreve as tradições históricas da prática reflexiva.

O autor dar ênfase à prática de ensino reflexivo baseada na atenção do professor para dentro, para sua própria prática, como para fora, para as condições sociais que permeiam essa prática. Nesse ponto, o pensamento de Zeichner se diferencia de Schön que enfatiza a reflexão do professor para dentro, tácita. O autor vai além dizendo que a prática reflexiva é democrática, emancipatória e tem um compromisso com a reflexão enquanto prática social. Esses princípios, segundo Zeichner, constituem o conceito de professor como prático reflexivo.

Zeichner alarga a reflexão sobre o ensino prático reflexivo e nos instiga a vivenciar essa prática. Situa a prática educativa dentro de um contexto que envolve pesquisa, reflexão pessoal, social, política, dentre outras. Ensinar exige consciência de nós mesmos, do outro e das circunstâncias que nos cercam.
Como praticar esse ensino reflexivo dentro de uma realidade permeada totalmente pela racionalidade técnica? Essa reflexão e construção prática e teórica do saber, do conhecimento do professor bate de frente com a cultura do aluno, da escola e de todo o sistema educacional. Mas, é como a história do beija-flor: cada um fazendo a sua parte para se juntar ao todo.

Referência:

ZEICHNER, K.M. O professor como prático reflexivo. In: __________ A formação reflexiva dos professores: idéias e práticas. Lisboa, Educa, 1993, p. 13-28.

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