Por
Ernaldina Sousa Silva Rodrigues
Kenneth M.
Zeichener é considerado um dos pensadores mais expressivos na área de formação
inicial de professores. Os seus textos têm como foco a realidade dos Estados
Unidos, mas vão além da realidade americana. É natural da Filadélfia e tem um
longo percurso e experiência no ensino e na formação de professores. Nessa
trajetória, foi professor do ensino básico, dirigiu programas de preparação de
professores e um centro de ensino urbano. É diretor do programa de formação de
professores da Universidade de Wisconsin-Madison.
Como os professores aprendem a ensinar? Como
ajudar os professores a aprenderem a ensinar? Essas indagações constituem o
problema de investigação de Zeichner. Para dar conta dessas questões, o autor
começa a refletir sua própria prática enquanto formador de professores
juntamente com outros colegas.
Zeichner aponta a problematização da prática como primeiro
passo para o processo de reflexão. Afirma as suas crenças nos professores que
têm consciência de seus objetivos e discorre sobre os seus esforços em promover
a causa da profissionalização dos professores.
O que é este movimento da prática reflexiva e qual a
razão do seu aparecimento? Pergunta o autor. Os termos
prático reflexivo e ensino reflexivo
tornaram-se slogans da reforma do
ensino e da formação de professores por todo o mundo na última década. As
razões decorrem da Racionalidade Técnica que tem o professor como técnico,
passivo e limitado. A produção do conhecimento sobre o ensino de qualidade é
feita pelas universidades que ignoram os conhecimentos e a experiência dos
professores.
O professor como
prático reflexivo é aquele que reflete sua própria experiência e reconhece que
o processo de aprender a ensinar se prolonga durante sua carreira. Os programas
de formação de professores podem preparar os professores para começarem a
ensinar e ajudá-los a interiorizarem, durante a formação inicial, o estudo da
maneira de como ensinam para melhorarem com o tempo e assumirem a
responsabilidade pelo seu próprio desenvolvimento profissional.
Baseado na
concepção de John Dewey sobre o ato humano e nas atitudes necessárias para a
ação reflexiva: a abertura de espírito, responsabilidade e sinceridade, e no
conceito de Donald Schön de que reflexão é “um processo que ocorre antes e
depois da ação e, em certa medida, durante a ação, Zeichner enfatiza a reflexão
como um processo e prática social. Ensino reflexivo como o ato dos professores
criticarem e desenvolverem suas teorias práticas à medida que refletem sozinhos
e em conjunto na e sobre a ação acerca do seu ensino e das condições sociais
que modelam as suas experiências de ensino.
Zeichner traça as
características que minam a emancipação dos professores nos programas de
formação criando a ilusão da reflexão e descreve as tradições históricas da
prática reflexiva.
O autor dar ênfase à
prática de ensino reflexivo baseada na
atenção do professor para dentro, para sua própria prática, como para fora, para as condições
sociais que permeiam essa prática. Nesse ponto, o pensamento de Zeichner se
diferencia de Schön que enfatiza a reflexão do professor para dentro, tácita. O
autor vai além dizendo que a prática reflexiva é democrática, emancipatória
e tem um compromisso com a reflexão
enquanto prática social. Esses
princípios, segundo Zeichner, constituem o conceito de professor como prático
reflexivo.
Zeichner alarga a
reflexão sobre o ensino prático reflexivo e nos instiga a vivenciar essa
prática. Situa a prática educativa dentro de um contexto que envolve pesquisa,
reflexão pessoal, social, política, dentre outras. Ensinar exige consciência de
nós mesmos, do outro e das circunstâncias que nos cercam.
Como praticar esse ensino reflexivo dentro de uma
realidade permeada totalmente pela racionalidade técnica? Essa reflexão e
construção prática e teórica do saber, do conhecimento do professor bate de
frente com a cultura do aluno, da escola e de todo o sistema educacional. Mas,
é como a história do beija-flor: cada um fazendo a sua parte para se juntar ao
todo.
ZEICHNER, K.M. O professor como prático reflexivo. In: __________ A formação reflexiva dos
professores: idéias e práticas. Lisboa, Educa, 1993, p. 13-28.
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