terça-feira, 30 de agosto de 2016

Como são compostas as comissões de processo administrativo disciplinar?

De acordo com o Manual de Processo Administrativo Disciplinar da Controladoria-Geral da União (atual Ministério da Transparência), do Direito Administrativo deriva novo ramo, qual seja o Direito Administrativo Disciplinar. Este, segundo o referido Manual: “é um ramo (…) que tem por objetivo regular a relação da Administração Pública com seu corpo funcional, estabelecendo regras de comportamento a título de deveres e proibições, bem como a previsão de pena a ser aplicada. ”[1].
Uma característica comum aos processos administrativos disciplinares é que, quando de suas instaurações, por meio de ato instaurador ou portaria inaugural no boletim de serviço (ou de pessoal) do órgão de publicação interna na jurisdição ou Diário Oficial, nomeia-se uma comissão que irá apurar os fatos narrados no referido ato. Porém, com base em que requisitos são escolhidos os membros da citada Comissão?
A resposta para tal questionamento está cristalizada nas próprias leis que regem as relações dos servidores com a Administração Pública. A título de exemplo, no caso dos servidores públicos civis da União, os requisitos se encontram no artigo 149 da lei 8.112/90, quais sejam: Três servidores estáveis, designados pela autoridade competente, e dentre eles, um será indicado como presidente da Comissão Disciplinar, devendo ocupar cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade igual ou superior ao indiciado.
Observe-se, ainda, que, mesmo que haja o enquadramento nos requisitos acima descritos, não poderão participar da referida comissão os servidores que forem cônjuges, companheiros ou parentes do acusado, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau.
Neste ponto, um pequeno parêntese deve ser aberto. Estamos tratando apenas da formação da Comissão Disciplinar em Processos Administrativos Disciplinares. Isso porque, em se tratando de Sindicância Acusatória ou Sindicância Meramente Investigativa, há regras diferenciadas. Na primeira, com base na Portaria CGU 335/2006, admite-se que a comissão seja composta por dois ou mais servidores estáveis (art. 12, §2º). A segunda, com base na mesma portaria, porém, no §1º do artigo 12, poderá ser instaurada com um ou mais servidores, que sequer precisam ser estáveis.
Portanto, mediante indicação pela autoridade competente, e atendidos os requisitos indicados nos estatutos dos servidores públicos e legislação correlata, estará formada a Comissão Disciplinar que realizará os trabalhos necessários para o andamento escorreito do Processo Administrativo Disciplinar.
Coisas que servidores públicos e empregados públicos precisam saber: 
1 – No caso das empresas estatais e sociedades de economia mista, inexiste a obrigatoriedade de realização de procedimentos prévios para exercício do poder disciplinar. Porém, prestigiando-se os Princípios que regem a Administração Pública, a pena disciplinar aplicada ao empregado público deve estar fundada em elementos de convicção que permitam segurança quanto à constatação do cometimento da falta funcional.
2 – Ainda, nesse mesmo sentido, se a Estatal possuir regulamento interno que institua a necessidade de inquérito ou sindicância internos para apuração e aplicação de pena disciplinar, não poderá dispensá-los, na forma da súmula 77[2] do Tribunal Superior do Trabalho.
3 – Tendo em vista que o emprego público não traz a garantia de estabilidade, presente no cargo público, formada comissão para investigar suposto fato infracional, não será possível indicar empregados estáveis para a mesma, inexistindo, pois, essa obrigatoriedade.
[1] Manual de Processo Administrativo Disciplinar/CGU. Brasília, março/2016. P. 13.
[2] Súmula nº 77 do TST
PUNIÇÃO (mantida) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003
Nula é a punição de empregado se não precedida de inquérito ou sindicância internos a que se obrigou a empresa por norma regulamentar.

Por Daniel Hilárioadvogado do escritório Cassel Ruzzarin Santos Rodrigues Advogados
Fonte: <http://www.blogservidorlegal.com.br/como-sao-compostas-as-comissoes-de-processo-administrativo-disciplinar/>

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

BURNOUT: SÍNDROME DE ESGOTAMENTO

Você está sem forças? Nada o alegra? Infelizmente pode tratar-se de um problema comum nos dias de hoje e que tem até nome: síndrome de esgotamento ou burnout — ou trabalhador queimado numa tradução livre. A boa notícia é a de que é possível combater esse problema.

Um site russo publicou a pesquisa de um conhecido psicoterapeuta austríaco, Alfried Langle, no qual são apresentados detalhes da síndrome. Com a autorização da fonte, o Incrível.club apresenta aqui os resultados da pesquisa.

A síndrome é um sintoma dos nossos tempos; é uma condição de esgotamento tamanha que nos leva a uma paralisia de forças e sentimentos que acaba se convertendo numa perda da vontade de viver. Os casos dessa síndrome são cada vez mais frequentes. Antes relacionada apenas a trabalhos sociais, a síndrome vem se espalhando também para outras profissões.

Uso excessivo da tecnologia, foco demasiado no consumo e materialismo são fatores que contribuem com o problema. A questão de fundo é a de que nos exploramos e deixamos que nos explorem.
Esgotamento leve

Todo mundo já deve ter sentido os sintomas do esgotamento leve. Descobrimos esses sinais depois de passar por uma forte tensão ou de termos terminado uma tarefa mais pesada. Por exemplo, quando nos preparamos para uma prova, atuando num projeto difícil, escrevendo uma tese ou cuidando de filhos pequenos. Às vezes, esses desafios requerem uma dose extra de energia e isso cobra seu preço.

Outro exemplo: médicos trabalhando durante uma epidemia têm muito mais trabalho e atuam sob pressão. É nessas horas que surgem os sintomas como irritabilidade, falta de desejo sexual, transtornos de sono, diminuição da motivação e sintomas depressivos. Esses sintomas caracterizam uma versão mais simples do esgotamento, que se manifesta por meio de reações psicológicas e fisiológicas em resposta a um stress mais forte.

A questão é que, quando a situação-gatilho do estresse termina, os sintomas desaparecem sozinhos. É o caso em que um fim de semana bem aproveitado ou uma temporada de férias já resolvem. Exercícios e um bom sono também ajudam a recarregar as baterias. Mas não se esqueça: sem essas medidas, seu corpo, tal qual um computador, entra em modo de economia de energia, como já mencionamos.

Na verdade, tanto o corpo quanto a psique foram ‘projetados’ para aguentar uma boa dose de estresse e tensão porque encarar esse tipo de situação faz parte de nossa vida e fazia parte da vida de nossos ancestrais. Por exemplo: se você tem de resgatar sua família de algum apuro. Não são casos simples que irão romper sua corda.

O problema, na verdade, é outro, são aquelas situações em que um desafio se emenda em outro e em outro e você não tem tempo para parar, se sentindo o tempo todo obrigado a cumprir com expectativas elevadas, com medo ou excessivamente ansioso por algo. Tudo isso leva a uma sobrecarga do sistema nervoso. A pessoa sobrecarrega os músculos e começa a sentir fisicamente a tensão. Alguns, inclusive, começam a ranger os dentes enquanto dormem. Eis um sintoma de esgotamento.

Esgotamento crônico

Se a tensão se torna crônica, a síndrome se manifesta como uma desordem generalizada.

Em 1974, o psiquiatra Freudenberger, de Nova York, publicou um artigo científico sobre voluntários que trabalharam em atividades sociais na igreja local. Neste texto, o especialista descreve que esses voluntários tinham sintomas parecidos com depressão. Em seu perfil, se detectavam sempre as mesmas características: a princípio, ficavam totalmente fascinados por suas atividades; em seguida, essa satisfação diminuía e, ao final, se desvanecia completamente, transformando-se em um punhado de cinzas.
Todos, enfim, manifestaram os mesmos sintomas: esgotamento mental e fadiga constante. Só de pensar que teriam de trabalhar, surgia uma fadiga. Contraíam doenças muito facilmente. Esse foi um dos conjuntos de sintomas.

Sobre seus sentimentos, bem, não eram lá muito fortes. Ocorreu algo que o psiquiatra chamou de ‘desumanização’. A atitude em relação àqueles que eles estavam ajudando e em relação às pessoas em geral mudou. Primeiro, era um tratamento amoroso e atento, que logo se tornou cínico e negativo. Também pioraram as relações com os colegas de trabalho que, por fim, se desdobrou num sentimento de culpa e num desejo de fugir de tudo. Trabalhavam menos e agiam como se fossem robôs..

Todos esses comportamentos têm uma certa lógica: se já não tenho força em meus sentimentos, não tenho forças para amar e escutar, e as pessoas se transformam num fardo para mim. Sinto que não posso correspondê-las, estar no mesmo nível e que suas expectativas são exageradas para mim. Então, são acionadas reações defensivas automáticas, o que, do ponto de vista da psique, é bastante sensato.

Como terceiro grupo de sintomas, o autor enumera a redução da produtividade. É quando a síndrome começa a prejudicar o trabalho. Segundo a pesquisa, os participantes já não estavam satisfeitos com seu trabalho e seus resultados. Se enxergavam como impotentes em relação a novos êxitos, estavam desacreditadas. Tudo era demais e os participantes relatavam que não estavam recebendo o reconhecimento que mereceriam.

Durante a pesquisa, Freudenberger descobriu que a síndrome do burnout não tem relação com o número de horas trabalhadas; sim, quanto mais se trabalha, mais seu aspecto emocional é afetado, mas a pessoa segue sendo produtiva por algum tempo. Conclusão: o processo tem sua própria dinâmica. É mais que um simples esgotamento, como veremos a seguir.
Etapas do esgotamento

Freudenberger criou uma escala de 12 níveis, que simplificaremos aqui:

1. A princípio, as pessoas com esgotamento têm um desejo obsessivo de afirmação (sou capaz de fazer algo), muitas vezes, inclusive, em forma de competição com colegas.
2. Em seguida, começa uma atitude negligente com as próprias necessidades. A pessoa se sente menos motivada para fazer exercício ou qualquer outra coisa de que goste; tem menos tempo para os outros e para si mesmo. Conversa com menos frequência.
3. No nível seguinte, não tem tempo para resolver conflitos e passa a ignorá-los. Mais adiante, passa a não percebê-los; não percebe, simplesmente, que há problemas. Se ausenta. Passa a se comportar como uma flor que está murchando.
4. Mais adiante, perde os sentimentos com respeito a si mesma; não sente. Se torna uma máquina que não pode parar, trabalhando no automático.
5. Na sequência, começa a sentir um vazio interior, se tornando depressiva.

Por fim (12ª etapa) a pessoa ‘quebra’, quase que literalmente, e cai doente, física e mentalmente, podendo, inclusive, ter pensamentos suicidas.

Uma vez, um paciente com esgotamento emocional veio a meu consultório. Sentou, suspirou e me disse: «Fico feliz de estar aqui». Parecia muito, muito esgotado. O caso é que ele sequer chegou a mim por sua conta. A consulta fora marcada por sua esposa, que queria a consulta o mais rápido possível. Marquei na data mais próxima, uma segunda-feira. E, no início da consulta, ele me confessou. «Me segurei para não me atirar pela janela durante o final de semana. Minha situação era insuportável».

E ali estava eu, diante de um executivo de enorme sucesso. Seus empregados mal suspeitavam de sua situação, que ele disfarçava bem. Durante muito tempo, a própria esposa não soube da enfermidade.

Mas, na etapa 11, ela se deu conta. O marido seguiu negando o problema por um tempo até que a pressão que recai sobre ele diminuiu e ele, então, se sentiu pronto para fazer algo. Eis um exemplo extremo de burnout.

Do entusiasmo à indiferença

Para designar com palavras mais simples como se manifesta o desgaste emocional, é possível recorrer à descrição do psicólogo alemão Matthias Burisch, que enumerou quatro etapas:

1. A primeira etapa é totalmente inofensiva, inclusive porque não é, ainda, um desgaste emocional de fato. Mas é preciso ficar atento: ao contrário do que se imagina, a pessoa se sente invadida por um entusiasmo excessivo, o que faz com que exija demais de si mesma. Esse processo de se cobrar pode durar semanas ou meses.

2. A segunda etapa é caracterizada por um esgotamento físico e emocional.

3. É na terceira etapa que se manifestam as primeiras reações defensivas; e o que faz uma pessoa com exigências exageradas? Foge das reações, se desumaniza. Trata-se, aqui, de um mecanismo de defesa para que o esgotamento não se agrave. Intuitivamente, a pessoa sente que precisa de um descanso e ‘tira o pé’ das relações sociais, que perdem a força, com contatos cada vez menos frequentes com outras pessoas. Claro, é uma reação justificável, mas que se manifesta numa área (a dos relacionamentos) nada adequada. Mais relaxada, a pessoa se isola de demandas e reclamações.

4. A quarta etapa reforça a anterior, e é a fase em que o esgotamento fica mais perceptível. Burisch denomina essa etapa ‘síndrome da repulsa’ e significa que a pessoa não sente qualquer alegria. Tudo provoca repúdio e enfado. Por exemplo, comi um peixe delicioso que, no entanto, me deu uma indisposição estomacal. No dia seguinte, o cheiro de peixe me dá asco. É uma reação defensiva à intoxicação e é mais ou menos assim que funciona.
Causa do esgotamento

Três aspectos se destacam quando falamos de causas do esgotamento. O primeiro é individual e psicológico — quando a pessoa simplesmente não liga de se entregar ao estresse. O segundo é social: a pressão que vem (bingo!) da sociedade, das exigências do trabalho, dos prazos cada vez mais curtos, das metas e das convenções sociais que nos obrigamos a cumprir. Por exemplo, se você acredita que todo ano deve fazer uma viagem internacional e, de repente não consegue e, nesse sentido, se considera inferior a seus amigos que ainda fazem esse tipo de viagem. Sim, esse tipo de pressão pode causar desgaste emocional.© Rachel Baran

As exigências mais dramáticas estão relacionadas, por exemplo, ao tempo no ambiente de trabalho — um “cerão” não remunerado que, caso o funcionário se negue a fazer, sinta que corre o risco de ser mandado embora.

As causas psicológicas (primeiro grupo) podem ser trabalhadas do modo tradicional, com terapias e tratamentos. Já o segundo tipo, para ser resolvido, exige uma mudança de programação mental: afinal, preciso, mesmo, trocar de carro a cada dois anos? A viagem ao exterior todo ano é imprescindível? Responder ‘não’ é simples, mas a resposta exige um auto convencimento ao qual nem todos estão dispostos.

Mas há, claro, o terceiro aspecto, relacionado à organização do trabalho. Se a pessoa possui pouca liberdade no ambiente de trabalho, se sofre algum tipo de ‘bulling’, é possível que esteja submetida a um estresse enorme. É o caso de uma reestruturação do meio.

Sentido não se compra

Nos limitamos a estudar as causas psicológicas. Nesse sentido, a causa do desgaste emocional está ligada a um vazio existencial. Viktor Frankl descreve o vazio existencial como o sofrimento por se sentir vazio e, assim, não encontrar um sentido.

Em sua pesquisa, realizada na Áustria com 271 médicos, apresentou os seguintes resultados. Os médicos que levavam uma vida cheia de sentido e não padeciam de vazio quase não sofriam desgaste emocional, mesmo trabalhando muitas horas por dia. Já os que mostravam um nível mais elevado de vazio emocional no trabalho apresentavam índices mais altos de esgotamento emocional, mesmo no caso de trabalharem menos.

Então, podemos, desde já tirar uma conclusão: não se pode comprar o sentido comum. Se sofro de um vazio interno, não importa o quanto ganhe, não será suficiente para comprar um sentido para minha existência. Não há recompensa. A síndrome do desgaste sempre nos confronta com as seguintes perguntas: «meu trabalho faz sentido pra mim?»; «encontramos algum valor pessoal em nossas tarefas». É desse sentido que estamos falando. Se perseguimos coisas que imaginamos ter sentido, como uma carreira, reconhecimento social ou o amor daqueles que nos cercam, então estamos nos equivocando. A busca por esses sentidos nos rouba muita energia e causa um estresse danado. E, como resultado, temos um déficit de sentido e experimentamos uma devastação, inclusive quando relaxamos.

Por outro lado, no outro extremo, nos sentimos realizados mesmo quando estamos cansados. Afinal, o dever cumprido, apesar do cansaço físico, não provoca desgaste emocional.

Para resumir, podemos dizer o seguinte: o desgaste emocional é um estado que chega como consequência de uma reação em cadeia que não nos permite sentir plenos e satisfeitos com o que estamos fazendo. Em outras palavras, se encontro um sentido no que estou fazendo, se sinto que estou fazendo algo interessante e importante, fico feliz e não há lugar para o esgotamento emocional. Não se pode, no entanto, confundir esses sentimentos com entusiasmo. O entusiasmo nem sempre está conectado com a plenitude.
A que me entrego

Outro aspecto ligado ao esgotamento emocional diz respeito à motivação. Por que estou fazendo algo? O que me atrai em meu trabalho? Se não posso pôr meu coração e minha alma e só me interessa o pagamento, estou, de alguma forma, me enganando.
É como se você estivesse diante de alguém falando, mas pensando em outras coisas: estou presente, mas só de corpo. Se não estou presente, de fato, em meu trabalho, em minha vida, então o problema é sério e não posso obter recompensas por isso, e não estamos falando de dinheiro. Você pode receber um belo contracheque no final do mês, mas não tem reconhecimento pelo que faz. Se não ponho minha alma no que faço e só tenho o trabalho como uma forma de alcançar outro objetivo, isso significa que estou abusando da situação.

Posso começar um projeto que promete render muito dinheiro. É algo a que não consigo resistir. Posso estar caindo na tentação que me levará ao esgotamento emocional. Bem, se esse tipo de situação acontece uma vez ou raramente, tudo ok. Mas se acontece o tempo todo, pode ser que eu esteja vivendo a reboque de minha própria vida. A que me dedico?

Certamente este é o ponto em que estarei embarcando na síndrome de esgotamento. Porque o mais provável é que entre de cabeça e não saiba a hora de parar; precisarei de um muro para me deter e, depois, bem depois, de um impulso que faça me mover novamente.© Rachel Baran

Ok, talvez o exemplo do dinheiro seja superficial demais. A motivação poderia ser mais profunda: quando busco apenas obter reconhecimentos. Preciso de aplausos, bajulação. E, sem satisfazer essas necessidades narcisistas, morro de ansiedade. Olhando de fora, ninguém percebe, só os mais próximos irão perceber. Mas não vou comentar essa necessidade com aqueles que me cercam. Na verdade, nem eu mesmo percebo que preciso tanto de uma plateia.

Outra situação: preciso de segurança. Fui pobre quando era criança; usava a mesmas roupas puídas até que acabassem completamente. Por isso, vivia com vergonha. Prometi a mim mesmo que nunca mais passaria por aquilo. Conheci muitas pessoas que conquistaram a riqueza às custas de esgotamento emocional. Porque queriam a todo custo evitar a miséria e qualquer sinal condicionado a ela.

Sim, isso é compreensível. Mas pode levar a uma situação em que a pessoa se exige até o limite do esgotamento. Exigências infinitas. Por trás dessa aparente motivação, pode haver um vazio, a falta de algo, deficiência que, por sua vez, leva à autoexploração.
O valor da vida

Esta deficiência pode não só ser uma necessidade subjetivamente percebida, mas também um objetivo que você quer alcançar e que, no final das contas, o levará a um esgotamento emocional.

Como percebo minha vida? Com base nisso, posso traçar meus objetivos.

Os objetivos podem ser colocados por seus pais ou ‘descobertos’ por você mesmo. Por exemplo, quero conquistar algo material. Ou quero ter três filhos. Quero ser jornalista, médico, político. Assim, a pessoa se impõe uma meta.

Sim, isso é absolutamente normal. Quem de nós não tem ao menos um objetivo na vida? Mas, se os objetivos te enchem toda a vida, começam a pesar demais, então esses mesmos objetivos acabam por levá-lo a uma conduta rígida que, por fim, exigirá toda a sua energia. E aí, tudo o que você faz se converte em meios para atingi-los. E isso, em si, não tem valor, só o sobrecarregará.

«Que bom que aprenderei a tocar violino» é um exemplo de valor próprio. Mas, se ao aprender violino quero ser o primeiro violinista da Filarmônica de Berlim, então, estarei me comparando com outras pessoas o tempo todo. Sei que preciso praticar mais, tocar mais para atingir o objetivo, de tal maneira que a a orientação para o objetivo começa a prevalecer sobre a orientação em si de tocar violino. E aí surge a insuficiência da atitude interior. Estou fazendo algo, mas aquilo que faço não leva um sentimento interior e isso faz com que minha vida perca valor. Eu mesmo destruo o conteúdo interno para alcançar os objetivos.

Quando a pessoa deprecia desta maneira o valor interno das coisas, prestando pouca atenção a elas, passa a subestimar a própria vida. Ou seja, uso meu tempo para atingir a meta a que me propus, o que, por sua vez, conduz a uma perda das relações. Ao deixar de lado meus valores internos e o valor da vida, em si, entro em estresse.

Tudo que dissemos até agora pode se resumir da seguinte forma. O estresse que o leva ao esgotamento se relaciona com fazer algo sem seu sentimento interior, sem sentir o verdadeiro valor do que está fazendo, sem dar valor a si mesmo. E chegamos a um estado de pré-depressão.

Isso ocorre quando fazemos coisas demais ou simplesmente fazemos algo por fazer. Por exemplo, estou fazendo comida pensando, esperando, simplesmente que esteja pronta logo. E me alegro quando posso servi-la. A questão é: se me alegro por algo que terminou — simplesmente porque terminou! — em nenhum momento, enxerguei valor no processo, em si. O fazer comida simplesmente não foi importante pra mim.

Se isso acontece com frequência, então estamos felizes porque a vida está passando — e talvez esteja chegando ao fim — e não participamos efetivamente dela. Queremos o fim, a morte. Se você simplesmente age, sem sentir, lamentamos, mas você não está vivendo, está apenas esperando que acabe sem, de fato, tomar parte nela.

O esgotamento é um aviso psicológico que nos passam de que estamos sendo passageiros de nossas próprias vidas.

Pessoas que, na maior parte do tempo fazem algo sem envolvimento não recebem nada da vida — porque não querem receber. Não sentem alegria e, cedo ou tarde, enfrentarão a síndrome de esgotamento.

Prevenindo o esgotamento

O que fazer para prevenir a síndrome de esgotamento? Muitos aspectos se resolvem sozinhos se você identifica a causa do problema. Se entende que pode resolver a situação mergulhando em si mesmo e falando sobre a situação com pessoas próximas. Eu deveria estar vivendo dessa forma?
Eu mesmo me sentia assim há uns dois anos. Iria escrever um livro durante o verão. Com todas as minhas anotações, fui à casa de campo. Vim, me estabeleci, fui dar uma volta, falei com os vizinhos. No dia seguinte, fiz a mesma coisa. Chamei meus amigos e nos encontramos. E no terceiro dia, tudo igual. A verdade é que a premência de começar a escrever me batia às portas, mas não conseguia reunir forças para isso. Tentei lembrar de que aquilo era meu dever, que os editores esperavam o material. E isso, por sua vez, representava uma pressão.

Foi então que me dei conta de que se tratava da síndrome de esgotamento. E me disse: provavelmente, preciso de mais tempo e, com certeza, o desejo retornará. E me permiti observar. Porque, a cada ano, sentia a inspiração, mas, naquele, nada de ela aparecer e, até o final do verão eu sequer havia aberto meu caderno de anotações. Não escrevi uma frase. Mas descansei e fiz coisas maravilhosas.
Afinal, aquela situação tinha sido negativa ou positiva? — me perguntei. Cheguei à conclusão de que não cumpri meu dever e aquilo foi um fracasso. Mas, se era assim, se simplesmente não consegui fazer o que deveria ter feito, então foi melhor ter ficado parado. Afinal, eu estava esgotado e antes do verão havia feito muitas coisas, e o ano acadêmico havia sido, de fato, pesado.

Mas, sim, tive uma batalha interior. Pensava, contemplava, refletia sobre o que, de fato, importava em minha vida. E, como resultado, duvidei de que escrever aquele livro fosse, de fato, importante em minha vida. Mais importante é viver, estar aqui, ter relações que valham a pena. O fato é que não sabemos quanto tempo ainda nos resta.

Em geral, o tratamento da síndrome de esgotamento começa com uma descarga emocional; dê a você mesmo mais tempo para cumprir suas tarefas, delegue responsabilidades, coloque metas realistas. Há muito que discutir nesse ponto, afinal, é onde nos encontramos com as estruturas mais profundas de nossa existência. Trata-se de nossa atitude diante da vida; é preciso que nossos objetivos sejam autênticos e falem com nossa alma.

Se a síndrome de esgotamento tem uma característica mais marcante em você, o mais recomendável é ir a um médico, incapacitar-se por um momento, descansar fisicamente. Ou simplesmente dar um tempo, desligar das obrigações.

A questão é que as pessoas que padecem da síndrome simplesmente não se podem permitir esse tipo de atitude. Se está incapacitada, segue exigindo demais de si mesma, de tal maneira que não pode descarregar todo o peso que carrega sobre as costas.
As pessoas sobre remorsos habitualmente. E aí, com a chegada de outros distúrbios associados, o esgotamento só tende a piorar.

Os medicamentos podem ajudar por algum tempo, mas não são a solução. A saúde física é a base. É preciso trabalhar também as necessidades, deficiências internas, objetivos e, claro, expectativas de vida.

É preciso pensar de que maneira é possível reduzir a pressão por parte da sociedade, em como se proteger disso. Em algumas situações, é saudável abrir mão de um cargo no trabalho.

No caso mais grave que presenciei em meu consultório, o paciente precisou se desligar completamente do trabalho por 4-5 meses. Mas, após regressar ao escritório, encontrou um estilo novo de realizar tarefas, pois, caso contrário, dentro de pouco tempo estaria esgotado novamente. Claro, se você trabalha duro ao longo de 30 anos, é muito difícil mudar. Mas é necessário.

É possível prevenir a síndrome do esgotamento fazendo algumas perguntas simples:

1. Por que estou fazendo o que faço? Para que vou todos os dias à faculdade? Para que estou escrevendo um livro ou me envolvi num determinado projeto? Qual o sentido disso? Me representa algum valor?
2. Gosto do que estou fazendo? Amo fazer? Sinto que é bom? Bom o suficiente para eu fazer com alma? O que estou fazendo me alegra? Provavelmente nem sempre vai ser assim, claro. Mas a alegria e a satisfação têm de prevalecer.

No final de tudo, lá no fundo, a pergunta que se deve fazer é bastante pessoal: afinal, quero viver para isso? Se em meu leito de morte, no mais íntimo dos balanços vou pensar: valeu a pena viver?

Ler mais: http://www.psicologiasdobrasil.com.br/burnout-sindrome-de-esgotamento/#ixzz4E7z4pZIJ
Fonte: < http://www.psicologiasdobrasil.com.br/burnout-sindrome-de-esgotamento/>

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Qualidade de Vida no Trabalho: um bem mais que necessário!

Pensar em qualidade de vida, é refletir sobre como conduzimos nossa vida. Pensar em qualidade de vida no ambiente organizacional é repensar sobre como podemos promover saúde para o ambiente de trabalho. O tema qualidade de vida no trabalho surgiu na literatura nas últimas três décadas, e foi com a mobilização sindical e com a conscientização dos trabalhadores que ela foi vista por vários pesquisadores, que se preocupavam em investigar os fatores que afetavam a produtividade e por consequência a satisfação do trabalhador para como o seu ambiente de trabalho.

Naquela época surgiu a escola de Administração Científica proposta por Taylor e o trabalhador ainda era visto como uma “engrenagem”, o pensamento de que o trabalhador era um empregado e que seu “patrão” estava apenas te ofertando um favor era estabelecido. O trabalhador não era visto como peça chave na organização, mas sim como uma máquina que deveria produzir em larga escala. Não demorou e as reações negativas deste pensamento foram surgindo gerando absenteísmo, greves e sabotagens por parte dos trabalhadores.

Foi por meio do psicólogo Elton Mayo que desenvolveu experimentos na fábrica Hawthorne em Chicago, que foi evidenciado que o rendimento do trabalho não dependia apenas do indivíduo isoladamente, mas do grupo de que fazia parte, permanecendo motivado pelo conforto material e por necessidades sociais e psicológicas.

Outros pesquisadores deram suas contribuições como Maslow, Herzberg e McGregor, colocando o que nos motiva para levantar todos os dias e trabalhar. As necessidades fisiológicas, de segurança, sociais, de estima e auto realização foram identificadas por Maslow. A satisfação com o trabalho, o reconhecimento, a possibilidade de crescimento profissional e o ambiente de trabalho foram identificados por Herzberg. Já McGregor criou a teoria da motivação dividindo-a em dois grupos, Teoria X na qual fazem parte dela as pessoas que preferem ser dirigidas não se interessando pelas responsabilidades e se apegando a segurança, e a Teoria Y o oposto da teoria x, na qual acredita-se que o homem pode dirigir-se a si mesmo e ser criativo no trabalho.

Várias teorias e experimentos que demonstram muito o que vivemos no ambiente organizacional. Foi a partir dos anos 70 que o trabalho foi visto como enobrecedor, porem foi nos anos 80 que ele foi visto como abdicação do lazer e dito por muitos como um “mal necessário”. A qualidade de vida no trabalho hoje é vista como a qualidade de percepção, ou seja, é aquilo que cada colaborador acredita ser, se o mesmo traz bem-estar social, psicológico, fisiológico, econômico e político.

Para que a qualidade de vida no trabalho se faça pertinente no âmbito organizacional é necessário que o empreendedor conheça a realidade de trabalho de cada colaborador, suas funções e como são exercidas. Quem pode colaborar com este trabalho são os próprios colaboradores exercendo a voz ativa em reuniões de trabalho e propondo intervenções que possam colaborar para o clima organizacional, já que cada colaborador sabe o ponto fraco do seu trabalho e o que deve ser melhorado.

Com a qualidade de vida no trabalho pode-se crer em um trabalho dignificante, saudável e que possa proporcionar realização profissional. Com ela podemos dizer que amamos nosso trabalho e evitamos assim o adoecimento físico ou psicológico. Entretanto caso as relações humanas e a comunicação venham a faltar a qualidade de vida no trabalho não se estabelece. Portanto a conscientização desta ferramenta se faz pertinente caso o amor pelo trabalho queira prevalecer.

Referências Bibliográficas

CARDOSO, Wilma Lucia Castro. Qualidade de Vida No Trabalho: uma articulação indispensável. In: GUIMARÃES, Liliana Andolpho Magalhães et al. Série Saúde Mental e Trabalho. 2. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. Cap. 5. p. 73-94.

Fonte: <http://www.psicologiasdobrasil.com.br/qualidade-de-vida-no-trabalho-um-bem-mais-que-necessario/>