quinta-feira, 21 de março de 2013

Marx nos convida a fazer pesquisa: apontamentos de leitura



Ernaldina Sousa Silva Rodrigues

Em  sua obra Prefácio à “Contribuição à Crítica da Economia Política”, Karl Marx (1818-1883) faz um estudo das condições econômicas de existência, examinando o sistema da economia burguesa do século XIX.

Para Marx, a sociedade burguesa divide-se em três classes, a saber: Primeira: Capital, Propriedade e Trabalho assalariado; Segunda: Estado e Comércio exterior; Terceira: Mercado Mundial. Explica que o texto foi escrito à luz dos Capítulos 1, a mercadoria, e 2, a moeda ou a circulação que compõem o título Capital. Ressalta que mantém cadernos com notas de estudo que desenvolveu para seu próprio esclarecimento.

Nesse preâmbulo, Marx nos aponta caminhos para a pesquisa por meio da realidade que nos cerca, delimitando o objeto de estudo: naquela época, o sistema da economia burguesa. Paralelo ao escrito propriamente dito sobre a realidade, indica a necessidade de um caderno de notas pessoal para o esclarecimento de fatos ligados ao estudo.

Esclarece o motivo pelo qual suprimiu a introdução geral de sua tese, visando não antecipar os resultados.

Discorre sobre sua área de atuação, a jurisprudência, e da situação em que se encontrava quando foi obrigado a analisar os crimes florestais e o parcelamento da propriedade fundiária entre o Estado e os camponeses do Mosela. Com isso, passa a se ocupar das questões econômicas. Confessa que quando ouviu rumores sobre o socialismo e o comunismo na França não tinha subsídios ou estudos suficientes para ajuizar sobre as tendências francesas.

Outro apontamento de Marx: não fazer juízo antecipado do que não se conhece ou não tem certeza. Há necessidade de estudar a realidade e fundamentá-la.

Fora da Gazeta Renana, onde trabalhava, Marx empreendeu estudos para elucidar suas dúvidas e para tanto realizou uma revisão crítica da Filosofia de Hegel, concluindo que: a sociedade burguesa, capitalista, tem suas raízes nas condições materiais de vida e não na religião; a estrutura e forma da sociedade burguesa devem ser procuradas na Economia Política; na produção social da própria vida os homens contraem relações de produção necessárias e independentes de sua vontade; as relações de produção correspondem ao desenvolvimento de suas forças produtivas e formam a estrutura econômica, o todo, da sociedade; o modo de produção de vida material condiciona o processo de vida social, política e intelectual; é o ser social que determina a consciência dos homens; em sua etapa de desenvolvimento, as forças produtivas materiais entram em contradição com as relações de produção de vida; sendo assim, as relações se transformam em entraves e gera-se a revolução social; com a transformação da base econômica, infraestrutura, a superestrutura ou o nível político-ideológico também se transforma, ou seja, os homens tomam consciência das contradições da vida material.

Nessa Obra, Marx traça a sua trajetória intelectual, sintetizando os conceitos para a compreensão da Economia Política. Ressalta, nessa trajetória, a importância de se ter um foco para a pesquisa. Usa o método positivista, baseado na observação e na descrição dos fatos que o cerca, para formular o materialismo histórico.

Marx faz uma revisão crítica do estado atual do conhecimento na sua área de interesse: a Filosofia do Direito, de Hegel. Familiariza-se com o conhecimento de sua área de pesquisa, delimita-o, passa a observá-lo, a descrevê-lo e  analisá-lo. Assim, indica a contribuição de seu estudo para entendimento e esclarecimento da realidade que o cerca.

Além de chamar a atenção do leitor para a teoria e o processo de revolução da sociedade, Marx nos convida a fazer pesquisa.

Referência:

MARX, K. Teoria e processo histórico da revolução social (prefácio à contribuição à crítica da Economia Política). In: Fernandes, F. (org.). Marx e Engels. São Paulo: Editora Ática, 1989, p. 231-235.



Publicado em ernaldina.xpg.uol.com.br/marx-nos-convida-a-fazer-pesquisa-apontamentos-de-leitura.html. em 08/03/2012.

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