Por Ernaldina Sousa Silva Rodrigues
Todos os
clássicos, com certeza, inovaram a forma de pensar a política e a relação entre
os homens. Todos eles, ao seu modo, contestaram e interpretaram as contradições
e a realidade da época em que viveram, principalmente pelas questões econômicas
de poderio, vantagens, monopólio e favores. O poder era, e ainda o é, econômico,
e era manipulado pela igreja, pelo absolutismo real e pela burguesia.
Parafraseando Cazuza: "a burguesia fede, a burguesia quer ficar rica,
enquanto houver burguesia não vai haver poesia". A burguesia está em todas
as épocas, muda somente de nome. Qual é a diferença hoje se a política está
literalmente ligada ao poder e permeia relações? Que contradições estamos
vivendo nesta nossa época que nos impelem a fazer o que estamos fazendo ou a
viver em prol de quê? De uma vida melhor? Pelo bem da coletividade?
De
alguma forma somos individualistas e partimos da concepção individualista,
conforme os clássicos Rousseau, Locke e Hobbes . Rousseau questionou e eu
reelaboro seu questionamento: quando é que deixamos de ser voluntários para nos
tornarmos servos da escravidão em qualquer sentido da palavra? La Boétie se
pergunta pela razão que levaria o homem à obediência, à servidão voluntária. Se
a democracia se dá nas relações, conforme Demerval Saviane, o que leva alguns
governos a praticarem a Egocracia e o que leva o povo a não exercitar os seus
direitos enquanto cidadãos? O que é ser cidadão? Será consentimento ou receio de
se expor? Ou o quê? Interessante é que os clássicos confrontaram as ideias e o
fazer da época em que viveram por meio da publicação escrita de suas ideias. De
certa forma, essas ideias contribuíram para entender a realidade que vivemos hoje.
Marx foi mais além ao interpretar e contestar teoricamente e a participar
ativamente da transformação da realidade naquela época: “Operários, uni-vos!”.
Uma
resposta encontrada na leitura das Obras
Clássicas de Rousseau, Locke e Hobbes (Discurso sobre as desigualdades,
Segundo Tratado sobre o Governo e alguns trechos de O Leviatã): o que distingue o homem do animal?
Rousseau parcialmente responde que seriam diferentes pela faculdade de
aperfeiçoarem-se com o auxílio das circunstâncias. Marx foi mais além: o homem
se distingue do animal como ser capaz de aperfeiçoar permanentemente os
instrumentos de sua sobrevivência. Esse é o grande diferencial do ser humano. É
aí que está a contradição. Segundo Marx, se não for esse o ponto, estaremos nos
alienando. A vida não existe sem contradição. Então pergunto: que
contradições existem em nossas vidas que nos fazem agir e pensar?
Discorrendo
sobre o pensamento dos três clássicos (Rousseau, Locke e Hobbes), penso que o que há
de comum entre os filósofos contratualistas é que eles partem da análise do
homem em estado de natureza. O homem tem direito de natureza, é jus naturale.
Todos têm uma visão individualista do homem, ou seja, o indivíduo preexiste ao
Estado. Todos eles visam justificar o poder do Estado sem recorrer à
intervenção divina. O pacto visa garantir os interesses dos indivíduos, sua
conservação e sua propriedade. Se no estado de natureza o indivíduo é livre com
o pacto, com o Estado de soberania a liberdade dos súditos está naquelas coisas
que o soberano permite. Sendo assim, o Estado se reduz à garantia do conjunto dos
interesses particulares.
Segundo
o professor C. B. Macpherson, em seu livro A
teoria política do individualismo possessivo, o contrato surge como decorrência
da atribuição de uma qualidade possessiva ao homem que, por natureza,
tem medo da morte, anseia pelo viver confortável e pela segurança e é movido
pelo instinto de posse e de desejo de acumulação.
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