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Por Ernaldina Sousa
Silva Rodrigues
Escrita na época dos primeiros movimentos autônomos da
classe operária europeia, a Ideologia Alemã é uma instigante incursão pela
teoria materialista e dialética da história. É a exposição da filosofia
marxista.
Os
autores criticam os neo-hegelianos pela filosofia fantasiosa sobre o mundo,
sobre a falsa realidade resumida ao mundo das ideias. Criticam Hegel pela redução do mundo material
ao mundo das ideias, do pensamento. No idealismo de Hegel, as ideias, os pensamentos
e os conceitos produzem, determinam, dominam a vida real dos homens, seu mundo
material, suas relações reais.
A
crítica sobre a filosofia alemã de Strauss a Stirner limita-se à crítica das
representações religiosas. O progresso do mundo estava ligado à religião tida
como redentora, dominadora e legítima representante do Estado.
Marx
e Engels questionam os filósofos sobre a relação entre a filosofia alemã e a
realidade alemã, a relação entre a crítica e o meio material.
Distinguem
os homens dos animais pelo fato de produzirem seus meios de vida e não pelo
fato de pensar como defendia Hegel. O que o homem é depende das condições
materiais de sua produção. Toda relação do homem é uma relação condicionada
pela produção. A produção determina a divisão do trabalho, a separação entre
cidade e campo.
As
fases do desenvolvimento da divisão do trabalho representam diferentes formas
de propriedades e determinam as relações dos indivíduos, segundo os autores. Nesse sentido, dividem as propriedades
em tribal, comunal ou Estatal e feudal. A primeira corresponde à fase não
desenvolvida da produção, à divisão natural do trabalho, onde a natureza é
explorada para a subsistência do indivíduo. A segunda fase consiste na reunião
de tribos para formar uma cidade, por contrato ou por conquista, gerando a
escravidão. Nessa fase, a divisão do trabalho é mais desenvolvida, há separação
entre cidade e campo e as relações de classe são visíveis. A última fase é
representada pela classe produtora da época, os pequenos camponeses.
Dessa
forma, os materialistas traçam o panorama da classe produtora, iniciada com as
comunidades tribal e comunal, até os pequenos camponeses servos da gleba. O
feudalismo se desenvolve e a nobreza passa a dominar os servos, originando as
corporações de ofício. No feudalismo deu-se a divisão do trabalho entre a
cidade e o campo.
Indivíduos
determinados estabelecem entre si relações sociais e políticas determinadas com
conexão entre estrutura social, política e produção. Os homens são
condicionados pelo mundo de produção de sua vida material. São pressupostos
reais e fazem parte do processo de desenvolvimento, empiricamente visíveis,
fazem parte da história. Para “fazer história”, precisam satisfazer suas
necessidades básicas, por meio da produção da vida material. O ato histórico
pressupõe a atividade de produção, a satisfação de necessidades e a procriação
ou produção da vida.
A
linguagem e a consciência nascem da necessidade de intercâmbio com outros
homens. A consciência é um produto social. A força de produção, o estado social
e a consciência podem entrar em contradição com a divisão do trabalho
espiritual e material realizados por indivíduos diferentes.
A
divisão do trabalho começa na família, com uma distribuição desigual, sendo a
mulher e os filhos escravos, propriedades do marido.
Os
filósofos, Marx e Engels, distinguem interesse individual do interesse coletivo de onde nasce a
contradição. Do interesse coletivo surge o Estado, coletividade ilusória,
baseada nos laços existentes na família, na tribo, nas classes. Toda classe que
aspira à dominação deve conquistar primeiro o poder político, representado como
interesse geral. O poder social, coletivo ilusório, gera alienação entre os
homens e seus próprios produtos, intercambiados pela sociedade civil.
A
consciência é produzida por indivíduos singulares em contato prático com a
produção do mundo inteiro. A concepção da história não é idealista nem
fantasiosa, como queria Hegel, é dialética e real, explicada pela práxis
material, pela produção da vida real e pela relação dos homens com a natureza.
A força motriz da história é a revolução do proletariado a ser efetivada pelas
circunstâncias alteradas e não a ilusão religiosa, as reduções teóricas.
Marx
e Engels reconhecem que Feuerbach tem sobre os materialistas puros a vantagem
de compreender que o homem é também um objeto sensível. Mas, Feuerbach reduz o
homem a esse objeto, divorciado do materialismo e da história. Não reconhece o
homem como atividade sensível, viva e real.
Uma
das principais forças da história, segundo os autores, é a divisão do trabalho.
A
obra Ideologia Alemã, obra comum escrita por Marx e Engels, funda sua concepção no ser social e expõe de
forma sistemática os princípios do materialismo histórico e do socialismo
científico. Assenta as bases iniciais no socialismo como ciência. Critica a
filosofia especulativa, reforçando que os filósofos sempre dominaram e
fabricaram a história de acordo com suas imaginações, não levando em conta a
vida real, material.
É um
livro ousado e instigante que expressa como os homens criam os meios para a
produção da vida e necessitam satisfazer suas necessidades primárias e
secundárias para se manterem vivos.
Referência:
MARX, Karl
e ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã (Feuerbach). São
Paulo: HUCITEC, 1979. p. 17-77.