Por Ernaldina Sousa Silva Rodrigues
Edgar Morin é
sociólogo e presidente da Agência Européia para a Cultura. Escreveu o Livro Introdução ao Pensamento Complexo no
qual constam os textos sobre A
Inteligência Cega e O paradigma da
Complexidade.
O autor, no
capítulo sobre A Inteligência Cega,
mostra que as ignorâncias, as cegueiras e os perigos têm caráter comum que
resulta de um modo mutilador de organização do conhecimento, incapaz de
reconhecer e apreender a complexidade do real.
O problema da
organização do conhecimento contra-se na utilização da lógica comandada por
paradigmas, princípios ocultos que governam a nossa visão das coisas e do mundo
sem que disso tenhamos consciência.
Advoga que a
patologia ou a doença do saber está na inteligência
cega. Esta destrói os conjuntos e as totalidades, isola todos os objetos
daquilo que os envolve, não concebendo o elo inseparável entre o observador e a
coisa observada. Assim, as realidades chaves são desintegradas, aproximando-nos
de uma mutação no conhecimento.
O que é a
complexidade? Pergunta Morin. Responde que é o tecido de acontecimentos, acções, interacções, retroacções,
determinações, acasos, que constituem o nosso mundo fenomenal (p.20).
Conclui que estamos ainda cegos perante o
problema da complexidade e que esta cegueira faz parte da barbárie (p.23).
O pensamento complexo, na visão de Morin, tem o papel de sensibilizar para as carências do nosso pensamento e fazer compreender que um pensamento mutilador
conduz a ações mutiladoras. Clama a todos para tomar consciência da patologia contemporânea do pensamento (p.
22).
No capítulo 3,
intitulado O paradigma da complexidade,
Morin trata do paradigma da simplicidade, da ordem e desordem do universo, da
auto-organização, da autonomia, da complexidade e completude, da razão,
racionalidade, racionalização, das necessidades dos macroconceitos, dos três
princípios, do todo que está na parte que está no todo e para a complexidade.
Explica o
paradigma da simplicidade como um paradigma que
põe ordem no universo e expulsa dele a desordem. A ordem estaria reduzida a
uma lei, a um princípio. O princípio da simplicidade separa o que está ligado
(disjunção) e unifica o que está disperso (redução) (p.86).
A desordem e a
ordem sempre é inimiga uma da outra, cooperam de uma certa maneira para
organizar o universo (p.89). Para ilustrar, cita o exemplo do big gang. Nesse sentido, o universo
começou com uma desintegração, uma desordem, e ao desintegrar-se, se organiza
(p.90). A desordem e a ordem crescem uma e outra no seio de uma organização que
se complexificou.
A
auto-organização, explicitada por Morin, passa pelo sujeito autônomo,
dependente, provisório, vacilante, inseguro, que é quase tudo por si e quase
nada pelo universo. A autonomia do sujeito é complexa, porque alimenta-se da
dependência de condições culturais e sociais.
Somos seres
complexos e a consciência dessa complexidade traz a aspiração à complexidade de
seres solidários e multidimensionais. Mas, traz, também, a compreensão de não
podermos escapar da incerteza e de que nunca teremos um saber total da
realidade que nos cerca.
Na autocrítica
complexa da noção de razão, o autor define razão como uma vontade de se ter uma
visão coerente dos fenômenos, das coisas e do universo (p.101). A razão como
aspecto lógico, a racionalidade seria
o diálogo com a lógica da razão. A
racionalização encerra a realidade num sistema coerente (p.102).
Finalmente, o
autor explica os três princípios que poderiam ajudar a pensar a complexidade:
princípio dialógico, permite-nos
manter a dualidade no seio da unidade. Associa dois termos ao mesmo tempo
complementares e antagônicos (p.107); princípio da recursão organizacional centra-se na idéia de que tudo o que é
produzido volta sobre o que produziu num ciclo ele mesmo auto-constitutivo,
auto-organizador e autoprodutor (p.108); o princípio hologramático está ligado
à idéia recursiva, que por sua vez está em parte ligada à idéia dialógica
(p.109). Tudo está interligado: o todo
está na parte que está no todo.
A complexidade
do real é pensada no paradigma da própria complexidade. São novas visões,
concepções, descobertas e reflexões baseadas na
crítica e na autocrítica do conhecimento dito moderno. O autor nos
alerta para a necessidade do diálogo
permanente com a descoberta (p.105). Chama a atenção para a cegueira em
torno de nossos conhecimentos e para a necessidade de uma tomada de consciência radical, de uma
(re)organização crítica e autocrítica de nossas teorias e ideologias. A
inteligência cega gera a doença do saber, a ignorância. A cegueira leva-nos ao
uso degradado da razão científica. Passamos a pensar e a agir como fantoches
manipulados, determinados pela realidade que nos cerca. Se a nossa inteligência
é cega, estamos privados de visão, abarcados por uma afeição extrema com
relação ao desenvolvimento da ciência e às ameaças ligadas a progresso
descontrolado do conhecimento que já levou (exemplo: guerras mundiais) e poderá
levar a catástrofes ainda mais graves para a Humanidade. Parafraseando
Boaventura de Sousa Santos (2002, p.23), precisamos de um conhecimento prudente para uma vida decente.
Os textos de Morin poderão servir para aquelas pessoas que desejarem fazer uma “viagem” teórica sobre o pensamento complexo e para uma reflexão sobre a realidade que “ignoramos”. Ignoramos ou por desconhecimento ou pela complexidade que envolve essa complexidade. Na realidade, essa complexidade foi e é criada pelo próprio homem que deseja a totalidade do universo.
Referência:
MORIN, E. Introdução ao Pensamento Complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 1990, Caps. 1 e 3.
SOUSA SANTOS, Boaventura. Um discurso sobre as ciências. 98 ed. Porto: Ed. Afrontamento, 2002.
Os textos de Morin poderão servir para aquelas pessoas que desejarem fazer uma “viagem” teórica sobre o pensamento complexo e para uma reflexão sobre a realidade que “ignoramos”. Ignoramos ou por desconhecimento ou pela complexidade que envolve essa complexidade. Na realidade, essa complexidade foi e é criada pelo próprio homem que deseja a totalidade do universo.
Referência:
MORIN, E. Introdução ao Pensamento Complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 1990, Caps. 1 e 3.
SOUSA SANTOS, Boaventura. Um discurso sobre as ciências. 98 ed. Porto: Ed. Afrontamento, 2002.
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