Por Ernaldina Sousa Silva Rodrigues
Os textos A mão direita e a mão esquerda do Estado,
O
mito da “mundialização” e o Estado social europeu e O neoliberalismo, utopia (em vias de realização) de uma exploração sem
limites fazem parte do livro CONTRAFOGOS
– Táticas para enfrentar a invasão neoliberal, escrito por Pierre Bourdieu.
A entrevista A mão esquerda e a mão direita do Estado (BOURDIEU,
1998, p. 9-20) foi concedida por Bordieu a R. P. Droit e a T. Ferenczi e
publicada no Le Monde, em 14 de
janeiro de 1992.[1] Na entrevista, o autor aborda questões sobre
as contradições do mundo social, a mão esquerda e a mão direita do Estado,
latitude dos governantes no campo simbólico, a profissionalização da política,
o intelectual e o contra poder crítico.
No texto O mito da “mundialização” e o Estado social
europeu (BOURDIEU, 1998, p. 42-61), o autor discute a visão neoliberal,
explorando a ideia da doutrinação
simbólica e o papel dos intelectuais, pesquisadores diante da imposição do
discurso dominante (Ibid., p. 42-3). Exemplifica o trabalho de imposição neoliberal por meio da expressão gota-a-gota simbólico (Ibid., p. 43) que
se apresenta sob as aparências da
inevitabilidade do neoliberalismo. O Estado é visto pelo autor como uma realidade ambígua, um lugar de conflitos (Ibid., p.48).
Analisa a globalização como um mito,
uma ideia-força, uma ideia que tem força social, que realiza a
crença (Ibid., p. 48). Trata das revoluções conservadoras dos anos 30 na
Alemanha e nos EUA e aponta caminhos para se combater os mitos da mundialização, indicando, portanto, o
questionamento radical da visão econômica excludente, o desenvolvimento de uma economia da felicidade, o contra poder
dos intelectuais e dos movimentos sociais, a invenção de um novo
internacionalismo e a criação de instituições
capazes de controlar as forças do
mercado financeiro (Ibid., p. 45-7). Por fim, explora a categoria ideologia neoliberal e ideologia da
competência para discutir a ambiguidade dos intelectuais frente ao
neoliberalismo.
No texto O neoliberalismo, utopia (em vias de
realização) de uma exploração sem limites (BOURDIEU, 1998, p. 135-149),
Bourdieu destaca a prática da utopia
neoliberal aliada a uma teoria econômica pensada como científica e real que realiza um trabalho político, visando um programa
de destruição metódica dos coletivos (Ibid., p. 137). Discorre sobre o
programa neoliberal e os efeitos causados pelo seu funcionamento junto à
política econômica. Aponta as forças de
conservação e as forças de
resistências como condições para conduzir a luta simbólica contra a utopia
dos pensadores neoliberais e dando lugar
a coletivos orientados para a busca racional de fins coletivamente elaborados e
aprovados (Ibid., p. 148).
Diferentemente
de Milton Friedman[2] que sustenta o neoliberalismo como programa
liberal vinculado ao capitalismo controlador, Bourdieu se posiciona de modo
claro contra o liberalismo e a globalização. As ideias discutidas por Bourdieu
enfocam os mecanismos de reprodução e eliminação social incutidos pela doutrinação simbólica da visão
neoliberal dominante que geram a violência
simbólica. Para combater os efeitos da dominação legitimada pelas forças do
neoliberalismo, o autor sugere o exercício da democracia pelas forças de resistência, pelo contrapoder crítico dos intelectuais.
Os textos de
Pierre Bourdieu interpretam a realidade do neoliberalismo de forma clara e
objetiva e nos ajudam a pensar questões do Estado neoliberal e o papel da
educação, mas especificamente da escola, como instrumento de mudanças ou de
conservação que legitima a dominação ou permite a construção de um pensamento e
de práticas críticas como movimento de resistência ao Estado doutrinário.
Pessoalmente vejo estes estudos como oportunos para se pensar cursos de
formação de professores de forma renovada e crítica.
Tenho convicção que a leitura dos textos será de extrema utilidade para os educadores que
buscam a melhoria da qualidade do ensino educacional.
Referência:
BOURDIEU,
Pierre. A mão esquerda e a mão direita do Estado; o mito da “mundialização” e o
Estado social europeu; o neoliberalismo, utopia (em vias de realização) de uma
exploração sem limites. In: _________. Contrafogos
– táticas para enfrentar a invasão neoliberal. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 1998, p. 9-20; 42-61; 135-149.
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