Por Ernaldina Sousa Silva Rodrigues
Corinta Maria Grisolia Geraldi, Maria da Glória
Martins Messias e Miriam Darlete Seade Guerra produziram o artigo intitulado Refletindo com Zeichner: um encontro
orientado por preocupações políticas, teóricas e epistemológicas, que
compõe o livro Cartografias do Trabalho Docente.
As autoras são integrantes do GEPEC, Grupo de
Estudos e Pesquisas sobre Educação Continuada. Escreveram o artigo para
apresentar as proposições de Kenneth M. Zeichner a respeito da formação docente
como profissionais reflexivos. Em notas de rodapé, as autoras contam a
trajetória para conseguir a entrevista pessoal com Zeichner, a sua participação
na 20ª Reunião Anual da ANPED em setembro de 97 e o encontro do professor com
um grupo de professoras-pesquisadoras de uma escola pública de Passo Fundo/RS.
Apresentam as ideias de Zeichner cuja obra trata da
valorização, autonomia profissional e acadêmica do trabalho docente inserido no
contexto social, político e cultural. Explicitam as proposições do pensador a
respeito da formação dos professores como profissionais reflexivos e o que ele
considera usos e abusos da reflexão, à
luz da literatura de recentes reformas educacionais. Explicitam também o
caráter da produção do docente enquanto pesquisador, por meio da pesquisa-ação.
O artigo que pretende inserir as ideias de Zeichner
na rede de pesquisadores que acreditam na relevância e especificidade do
trabalho docente, trata da busca de referências das autoras para descobertas do e no trabalho docente,
da trajetória de Zeichner e suas condições de produção, da reflexão e prática reflexiva, dos usos e abusos da
reflexão, da pesquisa-ação e sua legitimidade epistemológica e dos aspectos
contextuais na formação profissional de professores.
Nesse sentido, mostram a teoria pedagógica do
pensamento de Zeichner centrado na “necessidade de uma inserção explícita num
projeto histórico”, esclarecendo “os aspectos conceituais de sua hipótese de
trabalho, sua prática de formação e as análises que apresenta sobre currículo,
trabalho docente e produção de conhecimento.”
(p. 268)
As autoras apresentam as críticas de Zeichner e
Liston aos trabalhos de Donald Schön que trata a reflexão como um ato
individual e como um ponto de vista interno, implícito. Os autores vêm a
reflexão como um ato dialógico inserida na dimensão do trabalho pedagógico,
considerando as condições de produção desse trabalho e refletindo sobre as
principais tradições da prática de
formação de professores: tradição
acadêmica, de eficiência social, desenvolvimentista e reconstrucionista social.
Retomam o conceito de reflexão e da prática de
Zeichner, explanando a origem do termo prática reflexiva em John Dewey que
distingue o ato humano que é reflexivo daquele que é rotina, explicitando os pressupostos e implicações que
derivam de uma proposta de formação de professores tendo como eixo a reflexão
sobre a prática.
Nos “usos e abusos da reflexão”, as autoras
apresentam análise crítica do pensador americano sobre as tendências que
utilizam os slogans professor reflexivo e prática reflexiva, baseadas na
racionalidade técnica. Também apresentam as características-chaves que compõem
um professor reflexivo.
A pesquisa-ação, defendida por Zeichner, é
apresentada como um instrumento de desenvolvimento profissional para o
professorado, um instrumento para a implantação de reformas educacionais ou de
transformação da escola e como forma de promover o conhecimento dos problemas
de ensino e educação de um país. As autoras sintetizam a pesquisa-ação
defendida em três dimensões: “desenvolvimento profissional”, “prática social e
social” e “a luta para tornar visível o conhecimento produzido pelos
professores (p.255). Assim, apresentam as concepções do autor sobre “as teorias
práticas do professor” e as fases do desenvolvimento da pesquisa-ação expondo
exemplos de sua utilização nas diversas fases.
Finalmente, abordam os aspectos contextuais na
formação profissional de professores focando o movimento da prática reflexiva
como uma “reação às intenções” de práticas centralizadoras de governos que
controlam as escolas e as agências de formação. Destacam o movimento da prática
como parte de uma reação ao tecnicismo e de rompimento com a “tradição de que o
conhecimento só é produzido na academia”. Chamam a atenção para as ideias de uma formação ligada a uma
postura crítica do professor, visando a reconstrução social.
Nas conclusões, as autoras ressaltam a importância
das ideias de Zeichner na formação e apontam como limite a falta de um
tratamento claro do autor sobre “a função social da escola numa sociedade
capitalista”.
O artigo, sem dúvida, apresenta o pensamento de
Zeichner e reflete a formação do professor prático reflexivo. Ajuda-nos a
pensar os limites e possibilidades da prática docente e aponta-nos alguns
caminhos para sua efetivação. Um dos caminhos é começar a pensar a nossa
própria prática, experiência de trabalho, dialogando reflexivamente,
considerando sempre os aspectos sociais, políticos e culturais que nos cercam,
com um olhar a mais sobre a função social da escola.
A leitura do texto pode ser útil para aqueles que
queiram conhecer o pensamento de Zeichner e se propõem a refletir sobre sua
prática.
Referência:
GERALDI, C; FIORENTINI, D;
PEREIRA, E. Cartografias do Trabalho
Docente: apontamentos para uma epistemologia da prática pedagógica.
Campinas, Mercado de Letras. 1998, p.237-274.
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