Em qualquer mecanismo para lidar com e responder ao estresse há, pelo menos, dois elementos básicos envolvidos: a pessoa e a fonte de estresse e sua intensidade. A atitude de uma pessoa para com o estresse e o sofrimento irá decidir em muito o êxito que terá no futuro ao lidar com ele. Se a pessoa recebe bem sua presença como “tempero da vida” e crê que sem estresse a vida é monótona, este “tempero” pode ser necessário! Mas se vê o estresse como um vírus malígno que está pronto para atacar, a pessoa pode ter muita dificuldade em lidar com ele.
O estresse psicológico pode ter origem dentro do indivíduo, como acontece quando há conflito interno e preconceito. Pode ser causado por eventos externos tais como injustiça, inflação, desemprego, privação social, poluição atmosférica e ameaça de guerra nuclear. Além disso, cada pessoa possui determinadas necessidades que podem ser física, emocional, social ou espiritual. Quando qualquer uma dessas necessidades é inibida ou frustrada, seja justificadamente ou com muita frequência, os sintomas de estresse ocorrerão.
Há muitos fatores que influenciam a percepção da pessoa de uma resposta ao estresse. E ainda, as pessoas diferem em sua habilidade de responder e se adaptar ao estresse. O que é estresse para um indivíduo pode não ser para outro – pode até mesmo ser percebido como um desafio.
A percepção de uma pessoa de seu meio ambiente como sendo estressante ou ameaçador pode ser tão importante quanto a verdadeira intensidade e caráter da ameaça em si mesma. Linford Rees descreveu um paciente cuja principal queixa era um intenso sentimento de ansiedade. À medida que o psiquiatra começou a contar uma história muito longa, o paciente comentou: “ Posso lhe dizer exatamente qual é o problema. É meu trabalho!”.
O terapeuta respondeu: “Sim, então, fale sobre seu trabalho”. O paciente continuou: “Trabalho em uma loja de frutas”. “O que você faz exatamente?” “Meu trabalho é separar as laranjas grandes das laranjas pequenas.” “Sim”, disse o terapeuta.” “Então, é isso”, replicou o paciente. “Decidir, decidir, decidir.”
Enquanto a forma e a intensidade de qualquer resposta comportamental ao estresse dependerá em muito da natureza do estresse e das respostas do indivíduo e atitudes culturais, diversos fatores vão influenciar a resposta de uma pessoa ao estresse.
A percepção e interpretação de uma crise ou ameaça pelo indivíduo terá importante influência na qualidade e extensão da reação para com essa ameaça. Se a pessoa pode dar sentido a um evento ou à uma crise e tirar uma conclusão objetiva que dará novo significado à sua vida, esse evento estressante pode muito bem ser percebido como menos ameaçador. Por exemplo, a religião tem dado certas explicações à humanidade de eventos na vida e história, os quais, de outra forma, poderiam não ser bem entendidos. Essas explicações nos permite dar sentido e obter conforto dos eventos, os quais, de outra maneira, causariam grande tristeza.
A história a seguir ilustra como a dor com relação à morte de uma pessoa amada foi transformada em conforto por ‘Abdu’l-Bahá.
Um dia, uma mulher perguntou a ‘Abdu’l-Bahá se Ele visitaria sua filha doente em ‘Akká, na Terra Santa. Ele foi e levou duas rosas cor-de-rosa que deu à pequena. Então, voltando-Se para a mulher, disse com voz repleta de amor: “Deves ter paciência!” Naquela noite, a criança morreu. Quando a mãe perguntou a ‘Abdu’l-Bahá porquê, Ele disse:
“Existe um jardim que é de Deus. Os seres humanos são árvores que crescem nesse jardim; nosso Pai Celestial é o Jardineiro. Quando o Jardineiro vê uma pequena árvore em um lugar que é muito pequeno para seu desenvolvimento, Ele prepara outro lugar mais apropriado e bonito onde ela possa crescer e dar frutos. Então, Ele transplanta aquela pequena árvore. As outras árvores ficam surpresas e dizem: “Esta era uma árvore adorável. Por que o Jardineiro a extirpou?” Somente o Jardineiro Divino sabe a razão.
“Tu estais chorando, porém, se pudesses ver a beleza do lugar onde tua filha está, não ficarias mais triste. Ela está livre agora, como um pássaro, e cantando melodias divinas e de felicidade. “Se pudesses ver por ti mesma esse Jardim sagrado, não te contentarias mais em permanecer na terra. Entretanto, aqui é onde tuas obrigações estão agora.”
Esta explicação do significado da morte e da vida além dela deu uma nova visão àquela mãe e abrandou sua tristeza. A morte de sua filha se tornou fez mais sentido e, com isto, menos dolorosa.
Diferentes indivíduos responderão de diferentes maneiras aos mesmos fatores que causam estresse (estressores). As respostas serão qualitativa e quantitativamente diferentes dependendo da personalidade de cada indivíduo. Por exemplo, a perda de emprego é um fator estressante. Algumas pessoas ficarão deprimidas, enquanto outras podem ficar estimuladas a seguir uma nova carreira. Uma pessoa cuja vida tem sido caracterizada por passividade e resignação terá uma resposta diferente daquela que reage obsessivamente a cada detalhe dos eventos do dia a dia. Semelhantemente, aqueles que abrigam um sentimento de desconfiança ou mesmo paranóia reagirá de modo diferente às ameaças comparados àqueles que alcançaram relacionamentos baseados na confiança em suas vidas.
As pessoas vivenciam o estresse de maneiras diferentes. O estresse devido ao envelhecimento é algo a ser considerado. O aniversário de uma pessoa pode ser uma fonte de alegria ou agonia dependendo da expectativa do indivíduo e do que o aniversário representa. Uma mulher que acabara de fazer 37 anos, me procurou para fazer tratamento de depressão. Ela se sentia frustrada e com raiva de um mundo “injusto” e demonstrava raiva de homens “insensíveis”. Ela era uma advogada bem sucedida e respeitada socialmente. Porém, estava insatisfeita consigo mesma e com seu trabalho e sentia que o tempo estava passando para ela. No decorrer do tratamento, revelou diversas decepções que enfrentou em seus relacionamentos, os quais todos falharam em terminar em casamento. Ela estava perturbada com o fato de que estava fazendo 37 anos, ainda não havia se casado e logo chegaria ao final da idade de ter filhos. Cada aniversário representava, a seus olhos, sua incapacidade de realizar seu sonho de se tornar esposa e mãe. Para ela, envelhecer era percebido como uma estrada para um destino velado sem esperança de ser cumprido. Em contraste a esta, está uma mulher de 45 anos, casada, mãe de três crianças em idade escolar e mantenedora da família porque seu marido estava desempregado. Ela não tem tempo para se preocupar com o envelhecimento! A ansiedade dela se originava de seu medo de perder o emprego. Os aniversários, seu e de outros membros da família, eram uma fonte de alegria e um motivo para comemorar. Envelhecer para ela era uma série de marcos ao longo de uma estrada repleta de eventos, cada dia trazendo seus próprios desafios e triunfos. Estes dois exemplos de reações ao estresse do envelhecimento salientam o fato de que não é somente as circunstâncias da vida de uma pessoa, mas também sua atitude que determinam como o envelhecimento é percebido. No primeiro exemplo, se aquela mulher tivesse encontrado sentido e propósito em seu trabalho e aceitado seu destino espiritual, envelhecer, para ela, teria sido bem diferente.
(A. M. Ghadirian, “Envelhecer-Desafios e Oportunidades”; George Ronald, 1991; livre tradução.)
O Dr. Ghadirian, é professor de psiquiatria na Faculdade de Medicina da McGill University e psiquiatra chefe no Royal Victoria Hospital e Douglas Hospital, Montreal/Canada.
Fonte: http://daquiprafrente.com/2014/08/respostas-individuais-ao-estresse-a-m-ghadirian/
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