Por Ernaldina Sousa
Silva Rodrigues
Jean-Jacques Rousseau nasceu em
Genebra, Suíça, em 1712. Faleceu em 1778, aos 66 anos, em Ermenonville. A
partir de 1742, Rousseau chega a Paris em busca de sucesso. Nessa época,
fervilhavam as idéias liberais que desembocaram na Revolução Francesa em 1789.
Ficou conhecido perante os intelectuais da França em 1749, aos 37 anos, quando
discorreu sobre o tema O estabelecimento
das ciências e das artes terá contribuído para aprimorar os costumes?
Escreveu o intermezzo operístico de
Rousseau, O adivinho da Aldeia, os
Discursos sobre a Origem da Desigualdade e Sobre a Economia Política, o
romance A nova Heloísa, Emílio, Contrato
Social, Projeto de Constituição, Dicionário de Música, Considerações sobre o
governo da Polônia, os Diálogos e os Devaneios de um Caminhante Solitário.
Compara o homem a um animal
frágil, porém organizado. De forma exaustiva descreve o homem físico e a
apropriação desigual deste pela natureza. Os males sofridos pelo homem poderiam
ser evitados se vivessem conforme a prescrição da natureza. No estado de
natureza o homem é sadio e não precisa meditar, não sente necessidade de
remédios, nem de médicos. O animal por viver no estado de natureza se regenera
de todos os males e ferimentos naturais. O homem ao tratar o animal nesse
estado, degenera-o.
O homem em seu aspecto metafísico
ou moral se diferencia do animal pela intensidade, pela liberdade de concordar
ou resistir à natureza, pela faculdade de aperfeiçoar-se por meio das
circunstâncias. Perceber e sentir, em seu primeiro estado, querer e não querer,
desejar e temer são as primeiras circunstâncias que geram novos
desenvolvimentos. Ressalta a importância do uso da linguagem nas relações entre
os homens e discorre sobre as dificuldades relativas à origem das línguas.
Aponta como primeira dificuldade a necessidade de comunicação entre pais, mães
e filhos. Outras dificuldades seriam o estabelecimento das línguas no estado de
natureza, a necessidade da palavra apara aprender a pensar, o saber pensar para
encontrar a arte da palavra e o intérprete dessa convenção para as ideias.
Para o autor a primeira língua do
homem foi o grito da natureza, a língua mais universal. Depois, os homens se
comunicavam pelas inflexões de voz.
As faculdades do homem devem-se à
providência a condição de somente poderem desenvolve-se de acordo com as
necessidades.
Critica Thomas Hobbes (1588-1678)
por atribuir a ideia de que o homem é naturalmente mau. Para Rousseau o homem
nasce bom, mas é corrompido pelo meio em que vive, pela vida em sociedade.
O autor chama a atenção para a
questão da servidão e da dominação, devendo cada um refletir sobre os laços da
servidão.
Na segunda parte desta Obra
Clássica, o autor parte da constatação de que os homens em estado de natureza,
vivendo felizes e pacíficos foram surpreendidos com o primeiro verdadeiro fundador da sociedade civil que cercou um terreno
e lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas para acreditar, sem
contestação. Institui-se, então, a propriedade,
à base da exploração de uns sobre os outros e instaura-se a escravidão e a
miséria, passadas de geração a geração.
Traça a evolução e o progresso do
homem frente ao sentimento de conservação de sua existência. Por meio da
inveja, da preferência, da vaidade, do desprezo, da ambição de uns sobre os
outros, instaura-se a desigualdade entre os homens, afetando o seu estado de
felicidade e a sua inocência. A partir dessa idéia de olhar o outro, de sentir
inveja, afronta-se a voluntariedade humana e instaura-se a dominação e a
servidão.
Rousseau preconiza que a desigualdade natural insensivelmente se
desenvolve junto com a desigualdade de combinação e as diferenças entre os
homens acontecem pela força das circunstâncias.
Advoga o estabelecimento do
contrato social entre o governo e os soberanos para facilitar a convivência
destes na sociedade por meio da vontade geral.
Rousseau conclui o seu Discurso
sintetizando a origem e o progresso da desigualdade com base na pureza advinda
do homem no estado de natureza à sucessão lenta e gradativa do excesso de
corrupção entre os homens.
O autor descreve minuciosamente o
histórico da evolução do homem e a sucessão de coisas que geraram a dependência
entre as desigualdades de poder e de posse. O homem vive feliz e sadio no
estado de natureza. Com a introdução da propriedade e a instituição da
mão-de-obra por meio do trabalho, origina-se a desigualdade. A desigualdade
nasce então da ambição dos homens sobre os outros. Para restabelecer a
igualdade é firmado o pacto e o homem
se abdica de sua liberdade individual pela vontade geral, para viver em Estado
Democrático. A passagem do estado de natureza para o estado civil, o contrato
social firmado pelo pacto, a liberdade civil, o exercício da soberania por meio
da democracia direta e da vontade geral, a distinção entre os conceitos de
soberania e governo e a soberania inalienável e indivisível do povo, a
apropriação desigual são temas tratados na Obra de forma exaustiva.
Se para Rousseau o homem se
diferencia do animal pela sua faculdade de aperfeiçoar-se por meio das
circunstâncias; para Karl Marx (1818-1883), essa diferença está na capacidade
do homem aperfeiçoar permanentemente seus instrumentos de sobrevivência.
Rousseau incorporou o momento em
que viveu e, a partir de seu romantismo, do seu sentimento e de sua apologia
pela natureza, expôs suas ideias, às vezes de forma amarga e pessimista, mas
inovadoras com relação à política e a relação entre os homens.
Referências:
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da
Desigualdade entre os Homens. In:
Rousseau. São Paulo: Nova Cultura, Coleção os Pensadores, 1991, p. 234-282.